Paulo Testifica de Cristo em Roma
TEXTO ÁUREO
Na noite seguinte o Senhor, pondo-se ao lado dele, disse: "Coragem! Assim como você testemunhou a meu respeito em Jerusalém, deverá testemunhar também em Roma". (At 23.11).
VERDADE PRÁTICA
A principal e a mais urgente missão da Igreja é a evangelização de todos os povos e nações.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Atos 27.18-25
18 - E, andando nós agitados por uma veemente tempestade, no dia seguinte aliviaram o navio.
19 - E ao terceiro dia nós mesmos, com as nossas próprias mãos, lançamos ao mar a armação do navio.
20 - E, não aparecendo, havia já muitos dias, nem sol nem estrelas, e caindo sobre nós uma não pequena tempestade, fugiu-nos toda a esperança de nos salvarmos.
21 - E, havendo já muito que não se comia, então Paulo, pondo-se em pé no meio deles, disse: Fora, na verdade, razoável, ó senhores, ter-me ouvido a mim e não partir de Creta, e assim evitariam este incômodo e esta perda.
22 - Mas agora vos admoesto a que tenhais bom ânimo, porque não se perderá a vida de nenhum de vós, mas somente o navio.
23 - Porque esta mesma noite o anjo de Deus, de quem eu sou, e a quem sirvo, esteve comigo,
24 - Dizendo: Paulo, não temas; importa que sejas apresentado a César, e eis que Deus te deu todos quantos navegam contigo.
25 - Portanto, ó senhores, tende bom ânimo; porque creio em Deus, que há de acontecer assim como a mim me foi dito.
I. INTRODUÇÃO
Paulo, em Roma, permaneceu em prisão domiciliar por dois anos. Tinha licença de receber visitas, às quais pregava o evangelho. Paulo discutiu com os judeus em Jerusalém os quais o acusaram de profanar o Templo (At 21.26-34). Ele foi posto sob custódia romana em Cesaréia durante dois anos, mas após apelar para César, foi enviado por navio a Roma. Após deixar a ilha de Creta, os companheiros de Paulo naufragaram em Malta devido a uma forte tempestade. Três meses depois, ele finalmente chegou à capital do império. O que aconteceu a Paulo depois, segundo geralmente se crê, é o que se segue: durante esses dois anos, Paulo escreveu as Epístolas aos Efésios, Filipenses, Colossenses, e a Filemom. Em 63 d.C., aproximadamente, Paulo foi absolvido e solto. Durante uns poucos anos continuou seus trabalhos missionários, e talvez tenha ido até à Espanha, conforme planejara (Rm 15.28). Durante esse período, escreveu 1 Timóteo e Tito. Foi preso de novo cerca de 67 d.C., e levado de volta a Roma. 2 Timóteo foi escrita durante esse segundo encarceramento em Roma. A prisão de Paulo só terminou ao ser ele decapitado, sofrendo o martírio sob o imperador romano Nero. Boa aula!
II. DESENVOLVIMENTO
I. VIAGEM DE PAULO A ROMA (At 27.1-28-10)
Paulo não reconhece nenhuma das acusações feitas a ele pelos judeus. Paulo na verdade, podia-se considerar um fariseu, zeloso da lei moral do AT (21.24). Mesmo assim, Paulo não guardava a Lei como um conjunto de códigos ou padrões mediante o qual se tornaria justo. Como ensinou em suas epístolas, uma vida justa requer a obra do Espírito Santo no coração e na alma do crente. Paulo, cônscio de sua missão, como havia recebido ordens do Senhor para testemunhar do Evangelho em Roma, Clama pelo tribunal de César. Cidadão romano, tinha ele o direito de apelar para César, e tomada a resolução ninguém poderia revogar. Como era dos desígnios de Jesus que Paulo seguisse para Roma, onde teria que dar testemunho da sua Palavra, após a visita do rei Agripa a Cesaréia, o Governador Festo fê-lo seguir para a Itália. Pode-se avaliar como as viagens por mar eram perigosas pelo exemplo desta viagem – a quarta viagem missionária de Paulo. Os passageiros eram na realidade adições à carga transportada, proviam sua alimentação e não havia acomodações a bordo para dormirem (At 21.3,7,8). Navegar, só em determinadas épocas do ano, havia uma lei romana que proibia viagens no período entre 10 de novembro e 10 de março. At 28.11 se refere a um barco que foi apanhado no mar em um período perigoso. Ele passou o inverno em Malta. Paulo viajou num navio graneleiro alexandrino, carregado e que estava a caminho de Roma (At 27.6)
1. De Cesareia a Roma (27.1-44).
Esse é o início da quarta viagem missionária de Paulo, ainda que preso, contudo cônscio de sua missão: levar o evangelho a Roma. Diz Lucas, o qual também fez parte do comitê de viagem, que Paulo e alguns outros presos foram entregues a um centurião da coorte Augusta, chamados Júlio, o qual tratou muito bem o Apóstolo, permitindo-lhe em Sidon ir ver os seus amigos e receber deles bom acolhimento. “Eles embarcaram em Cesaréia, num navio de Adramitio, que seguia a costear as terras da Ásia. Aristarco, macedônio de Tessalônica os acompanhou. Aportaram em Sidon, dali seguiram a sotavento de Chipre, por serem contrários os ventos, e tendo atravessado o mar que banha a Cilícia e a Panfília, chegaram a Mirra, cidade da Lícia. Aí o centurião, encontrando um navio de Alexandria que estava de viagem para a Itália, fez com que embarcassem. Navegaram vagarosamente por vários dias e tendo chegado com dificuldade à altura de Cnido, não permitindo o vento seguirem viagem, navegaram a sotavento de Greta, na altura de Salmone; e costeando com dificuldade, chegaram a um lugar chamado Bons Portos, perto do qual estava a cidade de Laséa”. Essa viagem, como se vê, foi muito demorada, os ventos não eram favoráveis e tudo parecia difícil.
2. Paulo na Ilha de Malta (At 28.1-10).
Malta (grego Melita; significa Refúgio em língua fenícia), é formada por um pequeno arquipélago situado no mar Mediterrâneo: Malta (a maior das ilhas), Gozo, Comino, e as desabitadas Cominotto e Filfla. Situa-se a 93km ao sul da Sicília, a 290km ao norte da Líbia e a cerca de 290km a leste de Túnis. As ilhas têm uma superfície total de 316km2. Esse naufrágio na ilha de Malta não foi a primeira vez que Paulo correu risco de vida no mar. Poucos anos antes, ele escreveu: “Três vezes sofri naufrágio, uma noite e um dia passei no profundo.” Disse também que havia corrido “perigos no mar”. (2Co 11.25-27). As viagens marítimas o ajudaram a cumprir a função que Deus lhe deu como “apóstolo para as nações” (Rm 11.13). A passagem de Atos 28.2,4 chama os habitantes da ilha de bárbaros; mas isso significa, meramente, que eles não falavam o grego, ou, pelo menos, que o grego não era a língua nativa deles, embora talvez compreendessem bem o grego, segundo também se verificava na maior parte do mundo antigo, dentro e mesmo fora do império romano, naquela época. Os habitantes de Malta falavam um dialeto fenício, também chamado púnico. Públio um dos chefes da ilha, chamado no sétimo versículo deste vigésimo oitavo capítulo de «homem principal», provavelmente, derivava a sua autoridade do propraetor da Sicília. O título que é conferido aqui a ele (no grego, protos), é confirmado por muitas inscrições.
3. Paulo chega a Roma (Mt 28.11-15).
Paulo tinha o desejo de pregar o evangelho em Roma (Rm 15.22-29), e era da vontade de Deus que ele assim o fizesse (23.11). Quando, porém, chegou ali, estava algemado e ainda assim depois dos reveses, tempestades, naufrágio e muitas outras provações. Eles tinham que esperar três meses em Malta até que a temporada de navegação começasse, a partir de fevereiro. Note que o emblema do navio no qual embarcaram era Castor e Pólux, (em grego Dióscuros: “os gêmeos”, filhos de Zeus), as divindades patronas da navegação. Este era outro navio cargueiro que transportava grãos da África para a Itália. Embora Paulo fosse fiel, Deus não lhe proveu um caminho fácil e livre de problemas. Nós, da mesma forma, podemos estar na vontade de Deus, ser inteiramente fiéis a Ele, e mesmo assim sermos dirigidos por Ele através de caminhos desagradáveis, com aflições. No meio de tudo isso, sabemos, porém, que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus (Rm 8.28). Navegaram os 120 quilômetros até Siracusa, capital da Sicília, sem incidentes de nota e ali permaneceram por três dias. Continuando viagem, pararam por um dia em Régio, e, aproveitando o vento favorável seguiram até Potéoli, principal porto de Roma, no litoral norte da baía de Nápoles, a cerca de trezentos quilômetros de distância. Ali encontraram irmãos cristãos. A seu convite tiveram oportunidade de passar uma semana com eles, antes de continuar a sua viagem de duzentos e cinquenta quilômetros por terra até Roma, numa das grandes estradas construídas pelos romanos através da Europa.
II. O EVANGELHO É PROCLAMADO NA CAPITAL DO IMPÉRIO (AT 28.16-31)
De 60 a 62 a.C., Paulo esteve sob prisão domiciliar pregando e ensinando a qualquer um que quisesse ouvir, enquanto aguardava o julgamento perante Nero. Talvez Paulo houvesse esperado ser inocentado e solto (Fp 1.25; 2.24; Fm 22). Paulo tinha a firme convicção de que a mensagem do Evangelho deveria seguir no seu livre curso, sem impedimento algum, em triunfo. Mesmo em cadeias, o missionário não deixou de “ensinar, exortar e consolar a tempo e fora de tempo”.
1. Prisão domiciliar (28.16).
Quando chegaram a Roma, o Centurião o entregou ao prefeito do pretório. Paulo recebeu a permissão de se alojar fora do campo pretoriano, é o regime especial da custodia militaris: o prisioneiro arranja um alojamento por conta própria, mas deveria ter o braço direito sempre ligado, por uma corrente, ao braço esquerdo do soldado que o vigiava [1]. Como cidadão romano que não havia cometido nenhuma ofensa flagrante e que não tinha aspirações políticas contrárias ao império, Paulo cumpre essa prisão domiciliar. Paulo morava em sua própria casa alugada, onde podia receber seus amigos e ministrar para grupos tais como os judeus romanos.
2. Apologia entre os judeus (28.17-22).
A comunidade judaica de Roma nada tinha ouvido a respeito de Paulo de Tarso, mas já haviam ouvido relatos negativos sobre a seita do Caminho. David H Stern afirma que esses líderes judeus tinham a mente muito aberta, mais do que os de hoje normalmente têm [2]. Paulo objetivou regularizar sua situação o mais depressa possível diante da comunidade judaica de Roma. Faz um resumo do seu processo e protesta pela última vez sua fidelidade ao judaísmo. O procedimento de Paulo com esses líderes foi o mesmo adotado com o povo judeu de todos os lugares: ele apelou à Tanakh, usando tanto á torah quanto os profetas a fim de persuadi-los acerca de Jesus e o reino de Deus. Alguns converteram-se mas outros recusaram-se a crer.
3. Progresso do evangelho em Roma (28.23-31).
A partir do capítulo 1.8 vemos que a intenção de Atos foi a de mostrar que o evangelho se espalharia até os confins da terra, alcançando os goiym. A nova crença disseminou-se de Jerusalém a Roma, a capital do império. Os romanos eram politeístas, grande parte dos deuses romanos foram retirados do panteão grego, porém os nomes originais foram mudados. Muitos deuses de regiões conquistadas também foram incorporados aos cultos romanos. Os deuses eram antropomórficos, possuindo qualidades e defeitos humanos, além de serem representados em forma humana. Além dos deuses principais, os romanos cultuavam também os deuses lares e penates. Estes deuses eram cultuados dentro das casas e protegiam a família. Os principais deuses romanos eram Júpiter, Juno, Apolo, Marte, Diana, Vênus, Ceres e Baco. Em Roma, Paulo dirige a mensagem primeiro aos de sua raça, depois aos gentios, e assim, a chegada de Paulo a Roma consuma um programa de evangelização (Lc 24.47; At 1.8), originando uma nova expansão do cristianismo a partir da capital do mundo.
III. CONCLUSÃO
Não se sabe ao certo e o NT não indica de modo claro o que aconteceu depois deste período. Geralmente os estudiosos aceitam que Paulo fora liberto, talvez através de um ato de clemência aos quais Nero não era estranho. Se assim foi, Paulo pode então concretizar seu desejo de ir até a Espanha (Rm 15.24). Uma fonte segura afirma que Paulo fora martirizado em Roma sob Nero, em 64 ou 65 d.C. Assim, a proclamação do evangelho até aos confins da terra, chegou a uma etapa que, sem ser derradeira (Rm 15.23-24) é contudo, definitiva (28.31).
1º Trimestre de 2011 - Lição 13
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Pregador da Palavra de Deus, Redator da Revista Visão Missionária e Professor da EBD
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1º Trimestre de 2011 - Lição 13
1º Trimestre de 2011 - Lição 12
As Viagens Missionárias de Paulo
TEXTO ÁUREO
"E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado." (At 13.2).
VERDADE PRÁTICA
A expansão da igreja é um processo que envolve a ação do Espírito Santo e a obediência irrestrita do crente ao mandato evangelístico de Jesus.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Atos 13.1-5; 46-49
At 13. 1 - Na igreja de Antioquia havia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, chamado Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, que fora criado com Herodes, o tetrarca, e Saulo.
2 - Enquanto adoravam ao Senhor e jejuavam, disse o Espírito Santo: "Separem-me Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado".
3 - Assim, depois de jejuar e orar, impuseram-lhes as mãos e os enviaram.
4 - Enviados pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre.
5 - Chegando em Salamina, proclamaram a palavra de Deus nas sinagogas judaicas. João estava com eles como auxiliar.
At 13. 46 Então Paulo e Barnabé lhes responderam corajosamente: "Era necessário anunciar primeiro a vocês a palavra de Deus; uma vez que a rejeitam e não se julgam dignos da vida eterna, agora nos voltamos para os gentios.
47 - Pois assim o Senhor nos ordenou: ‘Eu fiz de você luz para os gentios, para que você leve a salvação até aos confins da terra’ ".
48 - Ouvindo isso, os gentios alegraram-se e bendisseram a palavra do Senhor; e creram todos os que haviam sido designados para a vida eterna.
49 - A palavra do Senhor se espalhava por toda a região.
I. INTRODUÇÃO
Paulo é considerado o maior missionário do Cristianismo, pelo muito que realizou em pouco tempo. Dominando as principais línguas do Império, possuidor de uma vasta e invejável cultura tanto secular quanto religiosa, cidadão romano com ‘passe livre’ por todo o império. Expôs a nova doutrina no Areópago aos filósofos estóicos, em Atenas, na ilha de Malta, onde ganhou todos os habitantes para Jesus, aos habitantes da Ásia Menor e até Roma. Realizou quatro viagens missionárias, levando-se em conta que, ao ser enviado preso para Roma, em todos os portos em que o navio aportava, aproveitava para disseminar o Evangelho. A maior parte do mundo conhecido foi alcançada. Uma excelente e abençoada aula!
1. A PRIMEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA (At 13-14)
1. De Antioquia a Chipre (At 13.1-12).
O ponto de partida da primeira viagem de Paulo foi Antioquia da Síria (é a moderna Antakya, na Turquia. Atualmente é um sítio arqueológico). Antioquia ocupa um importante lugar na história do cristianismo. Foi onde Paulo pregou o seu primeiro sermão (numa sinagoga), e foi também onde os seguidores de Jesus foram chamados pela primeira vez de Cristãos (At 11.26). Barnabé e Marcos o acompanharam, tendo embarcado na cidade portuária de Selêucida. Chegando na ilha de Chipre, terra natal de Barnabé, anunciam a Palavra de Deus nas Sinagogas de Salamina, cruzam toda a ilha até Pafos, onde Paulo pregou para o procônsul Sérgio Paulo e onde Elimas, o mágico, se opôs a pregação do Evangelho.
2. De Chipre a Antioquia da Pisídia (At 13.13-52).
Saindo da Ilha de Chipre, partiram em direção à Galácia do Sul (Psídia e Licaônia), no continente, passando por Perge, na Panfília, lugar de separação da equipe, quando João Marcos, assustado com a hostilidade daquele povo, retornou para Jerusalém. De Perge, rumaram para Antioquia da Psídia, que na verdade, não se encontrava na Pisídia, e, sim na Frigia e por ficar próxima da fronteira com a Pisídia, recebeu este nome a fim de distinguí-la da outra Antioquia, da Síria. Era uma colônia e um posto militar avançado dos romanos, sendo a cidade mais importante da Galácia do Sul.
3. De Icônio ao regresso a Antioquia (At 14.1-28).
Expulso de Antioquia da Psídia, Paulo segue para Icônio, onde enfrenta rígida oposição tanto de judeus quanto de gentios. Partiram rumo à Licaonia e fundaram as igrejas de Listra e Derbe. Foi em Listra, onde através de Paulo, um coxo fora curado (14.8-10). Isso chamou a atenção das multidões e Paulo aproveitou o momento para anunciar o Evangelho. Aqui, os missionários são confundidos com Zeus (na mitologia grega, é o rei dos deuses, soberano do Monte Olimpo e deus do céu e do trovão) e Hermes (um dos deuses olímpicos, filho de Zeus e de Maia, e possuidor de vários atributos). Os judeus de Antioquia da Psídia e de Icônio o atacaram e ele foi arrastado da cidade, quase morto (At 14.19). Depois disto, Paulo e Barnabé partiram para Derbe e de lá para a Igreja que os enviara, Antioquia da Síria, confirmando antes as igrejas em Listra, Icônio e Antioquia da Psídia (14.22), estabelecendo pastores nativos em cada uma delas. Finda assim, a primeira viagem missionária, que durou cerca de dois anos e cujo relato de Lucas, ocupa os capítulos 13 e 14 de Atos.
2. A SEGUNDA VIAGEM MISSIONÁRIA (At 15.36-18.28)
1. Em direção à Ásia (15.36-16.8).
Depois do Concílio de Jerusalém, Paulo resolve executar outra viagem com os objetivos de visitar as igrejas fundadas na primeira missão e abrir outros campos de trabalho. Houve entre os missionários uma pendenga acerca de João Marcos, sobrinho de Barnabé, cuja participação nessa viagem foi não foi aceita por Paulo causando a separação apesar de terem continuado amigos. Paulo forma nova equipe, dessa vez com Silas e já em Listra, Timóteo junta-se a eles. Nessa segunda missão, Paulo viaja por terra, saindo de Antioquia da Síria em direção à Ásia Menor (atual Turquia). Atravessou a Cilícia, região onde se situava Tarso, sua terra natal [não existe registro de que Paulo tenha desempenhado algum papel missionário em sua terra natal], seguindo para Derbe, Listra, Icônio e Antioquia da Psídia, confortando os novos crentes na fé e comunicando a decisão do Concílio de Jerusalém. O trio de missionários atravessam a região frígio-gálata [onde o Espírito Santo os impede de anunciar o evangelho – At 16.6]. Seguiram para Mísia e tentaram rumar à Bitínia, mas também o Espírito Santo não os permitiu (At 16.7). Toda a iniciativa no evangelismo e na atividade missionária, especialmente no caso das viagens missionárias registradas em Atos, deve ser orientada pelo Espírito Santo, como vemos em 1.8; 2.14-41; 4.8-12,31; 8.26-29,39,40; 10.19,20; 13.2; 16.6-10; 20.22
. A orientação aqui, pode ter ocorrido em forma de uma revelação profética, de um impulso interior, de circunstâncias externas, ou visões (vv. 6-9). Pelo impulso do Espírito, avançavam para levar o evangelho aos não salvos. Quando o Espírito os impedia de ir numa direção, iam noutra, confiando nEle para aprovar ou desaprovar seus planos de viagem[1].
2. Em direção à Europa (16.12-18.18).
Em Trôade [antiga Tróia da Ilíada de Homero], Paulo tem uma visão em que alguém lhe dizia: ‘Passa à Macedônia e ajuda-nos!’ (16.9). Em Trôade, a equipe ganha o reforço de Lucas. Da Ásia Menor, navegaram por dois dias em direção à Macedônia, a primeira região da Europa a ser visitada pelo apóstolo Paulo nesta sua segunda viagem missionária. Depois de chegar a Neápolis, o porto de Filipos, no nordeste da Macedônia, colônia romana e uma das principais cidades da Macedônia. Com essa visita, Paulo fundou a primeira igreja européia. A igreja fora organizada na casa de Lídia, rica comerciante vendedora de púrpura. Aqui, a cidadania romana de Paulo foi desrespeitada quando preso por libertar uma cativa de Satanás. Parece que Lucas permaneceu em Filipos quando Paulo, Silas e Timóteo percorreram as cidades macedônias de Anfípolis (uns 50 km de Filipos) e Apolônia (uns 50 km de Anfípolis). A seguir, Paulo visitou respectivamente as cidades macedônias de Tessalônica (uns 60 km de Apolônia), a principal cidade da Macedônia, com uma população constituída de gregos, romanos e judeus. Por três semanas pregou na sua sinagoga e por causa da perseguição, rumou para Beréia (uns 80 km de Tessalônica). Os bereanos foram mais receptivos e Paulo, na sinagoga, anuncia o Evangelho e não demorou muitos para os judeus de Tessalônica os perseguir também em Beréia e de lá tiveram que fugir às pressas e sozinho, indo para Atenas, deixou Silas e Timóteo naquela localidade (At 17.1-12). O bom relatório que Timóteo trouxe, ao retornar, induziu Paulo a escrever a sua primeira carta aos tessalonicenses (1Ts 3.6; At 18.5). A sua segunda carta aos tessalonicenses seguiu-se pouco depois.
3. Regresso.
Paulo agora navega para Atenas, o centro cultural do mundo grego, onde se encontra com os filósofos estóicos e epicureus e defende o Evangelho no areópago, resultando numa pequena igreja. De lá, rumou para Corinto, na Acaia e por um ano e meio ensinou a Palavra de Deus. Morou na casa de Áquila [judeu do Ponto, expulso de Roma por determinação de Cláudio] e sua mulher Priscila. De Corinto, parte para Cencréia, a cidade portuária, de onde rumou para sua base, com breve parada em Éfeso, navegando em seguida rumo à Cesaréia, de onde seguiu para Jerusalém e depois Antioquia da Síria (18.22). É o fim de sua segunda viagem missionária.
3. TERCEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA (At 18.23-28.31)
1. De Antioquia a Macedônia (18.23-20.3).
Paulo inicia a terceira viagem partindo de sua base em Antioquia da Síria, como fez das outras vezes. Lucas omite detalhes dessa trajetória até chegar em Éfeso, capital da Ásia Menor e mais importante cidade da região devido seu posicionamento geográfico onde cruzavam-se importantes rotas comerciais. Era o centro da adoração à Diana (Na Grécia, Ártemis ou Artemisa) e seu templo, uma das sete maravilhas do mundo antigo. Poe Éfeso havia passado Apolo, discípulo de Áquila. Paulo encontrou lá uma comunidade de doze crentes que conheciam apenas o batismo de João (At 19.1-7). Novamente Paulo ruma em direção à Corinto onde passou três meses e de onde escreveu a Epístola aos Romanos em 58 d.C. De volta à Antioquia da Síria, passa por Filipos, na Macedônia até chegar a Mileto.
2. De Filipos a Jerusalém (20.6-21.17).
De Mileto, manda chamar os anciãos da Igreja em Éfeso e na praia local procedeu ao célebre discurso de despedida (20.17-38). Rumando à Cidade Santa, passa por Cesaréia e pela Fenícia.
3. Paulo em Jerusalém.
Pelo Espírito, Paulo é avisado dos perigos que o esperavam na Cidade Santa. O Espírito Santo não estava proibindo Paulo de ir a Jerusalém, pois era da vontade de Deus que ele fosse. Deus, porém, estava dando a Paulo um aviso: que muito sofrimento o aguardava na sua ida para lá. Provavelmente o Espírito disse aqui, em Tiro, o mesmo que dissera em Cesaréia (vv. 8-14). Paulo, porém, estava decidido e disposto até mesmo a morrer por amor do evangelho (vv. 10-14). Em Jerusalém, os crentes aceitaram Paulo, e ele falou com Tiago e os presbíteros sobre o trabalho entre os gentios (21.17-19). Os irmãos de Jerusalém comentaram com Paulo a respeito de algumas pessoas que tinham recebido informações de outras que ele estava tentando destruir os costumes da lei de Moisés, e sugeriram que ele fosse purificado no Templo com alguns outros homens, para mostrar que ele não era oposto às práticas judaicas (21.20-24); Paulo aceitou o conselho, e entrou no Templo com os outros homens para ser purificado (21.26; veja 1Co 9.20) e acaba preso no Templo. Defende-se diante do povo e do Sinédrio e é enviado para Cesaréia, onde se apresenta diante de Félix, Festo e Agripa II. Aqui temos o início de uma quarta viagem missionária, dessa vez, para Roma, por ter apelado para César na condição de prisioneiro romano.
4. CONCLUSÃO
Paulo não dispunha dos recursos que estão à disposição da Igreja hoje, mas realizou muito mais do que todos nós juntos. A pé ou em velhas e sujas embarcações, em perigos de salteadores, em naufrágios e em perseguições, mas em tudo isso, soube aproveitar as situações para a glória de Deus e alcançar os que haviam de ser salvos. Por tudo o que sofreu durante o seu ministério, tornou-se o modelo a ser seguido para todos nós.
TEXTO ÁUREO
"E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado." (At 13.2).
VERDADE PRÁTICA
A expansão da igreja é um processo que envolve a ação do Espírito Santo e a obediência irrestrita do crente ao mandato evangelístico de Jesus.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Atos 13.1-5; 46-49
At 13. 1 - Na igreja de Antioquia havia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, chamado Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, que fora criado com Herodes, o tetrarca, e Saulo.
2 - Enquanto adoravam ao Senhor e jejuavam, disse o Espírito Santo: "Separem-me Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado".
3 - Assim, depois de jejuar e orar, impuseram-lhes as mãos e os enviaram.
4 - Enviados pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre.
5 - Chegando em Salamina, proclamaram a palavra de Deus nas sinagogas judaicas. João estava com eles como auxiliar.
At 13. 46 Então Paulo e Barnabé lhes responderam corajosamente: "Era necessário anunciar primeiro a vocês a palavra de Deus; uma vez que a rejeitam e não se julgam dignos da vida eterna, agora nos voltamos para os gentios.
47 - Pois assim o Senhor nos ordenou: ‘Eu fiz de você luz para os gentios, para que você leve a salvação até aos confins da terra’ ".
48 - Ouvindo isso, os gentios alegraram-se e bendisseram a palavra do Senhor; e creram todos os que haviam sido designados para a vida eterna.
49 - A palavra do Senhor se espalhava por toda a região.
I. INTRODUÇÃO
Paulo é considerado o maior missionário do Cristianismo, pelo muito que realizou em pouco tempo. Dominando as principais línguas do Império, possuidor de uma vasta e invejável cultura tanto secular quanto religiosa, cidadão romano com ‘passe livre’ por todo o império. Expôs a nova doutrina no Areópago aos filósofos estóicos, em Atenas, na ilha de Malta, onde ganhou todos os habitantes para Jesus, aos habitantes da Ásia Menor e até Roma. Realizou quatro viagens missionárias, levando-se em conta que, ao ser enviado preso para Roma, em todos os portos em que o navio aportava, aproveitava para disseminar o Evangelho. A maior parte do mundo conhecido foi alcançada. Uma excelente e abençoada aula!
1. A PRIMEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA (At 13-14)
1. De Antioquia a Chipre (At 13.1-12).
O ponto de partida da primeira viagem de Paulo foi Antioquia da Síria (é a moderna Antakya, na Turquia. Atualmente é um sítio arqueológico). Antioquia ocupa um importante lugar na história do cristianismo. Foi onde Paulo pregou o seu primeiro sermão (numa sinagoga), e foi também onde os seguidores de Jesus foram chamados pela primeira vez de Cristãos (At 11.26). Barnabé e Marcos o acompanharam, tendo embarcado na cidade portuária de Selêucida. Chegando na ilha de Chipre, terra natal de Barnabé, anunciam a Palavra de Deus nas Sinagogas de Salamina, cruzam toda a ilha até Pafos, onde Paulo pregou para o procônsul Sérgio Paulo e onde Elimas, o mágico, se opôs a pregação do Evangelho.
2. De Chipre a Antioquia da Pisídia (At 13.13-52).
Saindo da Ilha de Chipre, partiram em direção à Galácia do Sul (Psídia e Licaônia), no continente, passando por Perge, na Panfília, lugar de separação da equipe, quando João Marcos, assustado com a hostilidade daquele povo, retornou para Jerusalém. De Perge, rumaram para Antioquia da Psídia, que na verdade, não se encontrava na Pisídia, e, sim na Frigia e por ficar próxima da fronteira com a Pisídia, recebeu este nome a fim de distinguí-la da outra Antioquia, da Síria. Era uma colônia e um posto militar avançado dos romanos, sendo a cidade mais importante da Galácia do Sul.
3. De Icônio ao regresso a Antioquia (At 14.1-28).
Expulso de Antioquia da Psídia, Paulo segue para Icônio, onde enfrenta rígida oposição tanto de judeus quanto de gentios. Partiram rumo à Licaonia e fundaram as igrejas de Listra e Derbe. Foi em Listra, onde através de Paulo, um coxo fora curado (14.8-10). Isso chamou a atenção das multidões e Paulo aproveitou o momento para anunciar o Evangelho. Aqui, os missionários são confundidos com Zeus (na mitologia grega, é o rei dos deuses, soberano do Monte Olimpo e deus do céu e do trovão) e Hermes (um dos deuses olímpicos, filho de Zeus e de Maia, e possuidor de vários atributos). Os judeus de Antioquia da Psídia e de Icônio o atacaram e ele foi arrastado da cidade, quase morto (At 14.19). Depois disto, Paulo e Barnabé partiram para Derbe e de lá para a Igreja que os enviara, Antioquia da Síria, confirmando antes as igrejas em Listra, Icônio e Antioquia da Psídia (14.22), estabelecendo pastores nativos em cada uma delas. Finda assim, a primeira viagem missionária, que durou cerca de dois anos e cujo relato de Lucas, ocupa os capítulos 13 e 14 de Atos.
2. A SEGUNDA VIAGEM MISSIONÁRIA (At 15.36-18.28)
1. Em direção à Ásia (15.36-16.8).
Depois do Concílio de Jerusalém, Paulo resolve executar outra viagem com os objetivos de visitar as igrejas fundadas na primeira missão e abrir outros campos de trabalho. Houve entre os missionários uma pendenga acerca de João Marcos, sobrinho de Barnabé, cuja participação nessa viagem foi não foi aceita por Paulo causando a separação apesar de terem continuado amigos. Paulo forma nova equipe, dessa vez com Silas e já em Listra, Timóteo junta-se a eles. Nessa segunda missão, Paulo viaja por terra, saindo de Antioquia da Síria em direção à Ásia Menor (atual Turquia). Atravessou a Cilícia, região onde se situava Tarso, sua terra natal [não existe registro de que Paulo tenha desempenhado algum papel missionário em sua terra natal], seguindo para Derbe, Listra, Icônio e Antioquia da Psídia, confortando os novos crentes na fé e comunicando a decisão do Concílio de Jerusalém. O trio de missionários atravessam a região frígio-gálata [onde o Espírito Santo os impede de anunciar o evangelho – At 16.6]. Seguiram para Mísia e tentaram rumar à Bitínia, mas também o Espírito Santo não os permitiu (At 16.7). Toda a iniciativa no evangelismo e na atividade missionária, especialmente no caso das viagens missionárias registradas em Atos, deve ser orientada pelo Espírito Santo, como vemos em 1.8; 2.14-41; 4.8-12,31; 8.26-29,39,40; 10.19,20; 13.2; 16.6-10; 20.22
. A orientação aqui, pode ter ocorrido em forma de uma revelação profética, de um impulso interior, de circunstâncias externas, ou visões (vv. 6-9). Pelo impulso do Espírito, avançavam para levar o evangelho aos não salvos. Quando o Espírito os impedia de ir numa direção, iam noutra, confiando nEle para aprovar ou desaprovar seus planos de viagem[1].
2. Em direção à Europa (16.12-18.18).
Em Trôade [antiga Tróia da Ilíada de Homero], Paulo tem uma visão em que alguém lhe dizia: ‘Passa à Macedônia e ajuda-nos!’ (16.9). Em Trôade, a equipe ganha o reforço de Lucas. Da Ásia Menor, navegaram por dois dias em direção à Macedônia, a primeira região da Europa a ser visitada pelo apóstolo Paulo nesta sua segunda viagem missionária. Depois de chegar a Neápolis, o porto de Filipos, no nordeste da Macedônia, colônia romana e uma das principais cidades da Macedônia. Com essa visita, Paulo fundou a primeira igreja européia. A igreja fora organizada na casa de Lídia, rica comerciante vendedora de púrpura. Aqui, a cidadania romana de Paulo foi desrespeitada quando preso por libertar uma cativa de Satanás. Parece que Lucas permaneceu em Filipos quando Paulo, Silas e Timóteo percorreram as cidades macedônias de Anfípolis (uns 50 km de Filipos) e Apolônia (uns 50 km de Anfípolis). A seguir, Paulo visitou respectivamente as cidades macedônias de Tessalônica (uns 60 km de Apolônia), a principal cidade da Macedônia, com uma população constituída de gregos, romanos e judeus. Por três semanas pregou na sua sinagoga e por causa da perseguição, rumou para Beréia (uns 80 km de Tessalônica). Os bereanos foram mais receptivos e Paulo, na sinagoga, anuncia o Evangelho e não demorou muitos para os judeus de Tessalônica os perseguir também em Beréia e de lá tiveram que fugir às pressas e sozinho, indo para Atenas, deixou Silas e Timóteo naquela localidade (At 17.1-12). O bom relatório que Timóteo trouxe, ao retornar, induziu Paulo a escrever a sua primeira carta aos tessalonicenses (1Ts 3.6; At 18.5). A sua segunda carta aos tessalonicenses seguiu-se pouco depois.
3. Regresso.
Paulo agora navega para Atenas, o centro cultural do mundo grego, onde se encontra com os filósofos estóicos e epicureus e defende o Evangelho no areópago, resultando numa pequena igreja. De lá, rumou para Corinto, na Acaia e por um ano e meio ensinou a Palavra de Deus. Morou na casa de Áquila [judeu do Ponto, expulso de Roma por determinação de Cláudio] e sua mulher Priscila. De Corinto, parte para Cencréia, a cidade portuária, de onde rumou para sua base, com breve parada em Éfeso, navegando em seguida rumo à Cesaréia, de onde seguiu para Jerusalém e depois Antioquia da Síria (18.22). É o fim de sua segunda viagem missionária.
3. TERCEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA (At 18.23-28.31)
1. De Antioquia a Macedônia (18.23-20.3).
Paulo inicia a terceira viagem partindo de sua base em Antioquia da Síria, como fez das outras vezes. Lucas omite detalhes dessa trajetória até chegar em Éfeso, capital da Ásia Menor e mais importante cidade da região devido seu posicionamento geográfico onde cruzavam-se importantes rotas comerciais. Era o centro da adoração à Diana (Na Grécia, Ártemis ou Artemisa) e seu templo, uma das sete maravilhas do mundo antigo. Poe Éfeso havia passado Apolo, discípulo de Áquila. Paulo encontrou lá uma comunidade de doze crentes que conheciam apenas o batismo de João (At 19.1-7). Novamente Paulo ruma em direção à Corinto onde passou três meses e de onde escreveu a Epístola aos Romanos em 58 d.C. De volta à Antioquia da Síria, passa por Filipos, na Macedônia até chegar a Mileto.
2. De Filipos a Jerusalém (20.6-21.17).
De Mileto, manda chamar os anciãos da Igreja em Éfeso e na praia local procedeu ao célebre discurso de despedida (20.17-38). Rumando à Cidade Santa, passa por Cesaréia e pela Fenícia.
3. Paulo em Jerusalém.
Pelo Espírito, Paulo é avisado dos perigos que o esperavam na Cidade Santa. O Espírito Santo não estava proibindo Paulo de ir a Jerusalém, pois era da vontade de Deus que ele fosse. Deus, porém, estava dando a Paulo um aviso: que muito sofrimento o aguardava na sua ida para lá. Provavelmente o Espírito disse aqui, em Tiro, o mesmo que dissera em Cesaréia (vv. 8-14). Paulo, porém, estava decidido e disposto até mesmo a morrer por amor do evangelho (vv. 10-14). Em Jerusalém, os crentes aceitaram Paulo, e ele falou com Tiago e os presbíteros sobre o trabalho entre os gentios (21.17-19). Os irmãos de Jerusalém comentaram com Paulo a respeito de algumas pessoas que tinham recebido informações de outras que ele estava tentando destruir os costumes da lei de Moisés, e sugeriram que ele fosse purificado no Templo com alguns outros homens, para mostrar que ele não era oposto às práticas judaicas (21.20-24); Paulo aceitou o conselho, e entrou no Templo com os outros homens para ser purificado (21.26; veja 1Co 9.20) e acaba preso no Templo. Defende-se diante do povo e do Sinédrio e é enviado para Cesaréia, onde se apresenta diante de Félix, Festo e Agripa II. Aqui temos o início de uma quarta viagem missionária, dessa vez, para Roma, por ter apelado para César na condição de prisioneiro romano.
4. CONCLUSÃO
Paulo não dispunha dos recursos que estão à disposição da Igreja hoje, mas realizou muito mais do que todos nós juntos. A pé ou em velhas e sujas embarcações, em perigos de salteadores, em naufrágios e em perseguições, mas em tudo isso, soube aproveitar as situações para a glória de Deus e alcançar os que haviam de ser salvos. Por tudo o que sofreu durante o seu ministério, tornou-se o modelo a ser seguido para todos nós.
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Pregador da Palavra de Deus, Redator da Revista Visão Missionária e Professor da EBD
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1º Trimestre de 2011 - Lição 12
1º Trimestre de 2011 - Lição 11
O Primeiro Cocilio da Igreja de Cristo
TEXTO ÁUREO
"Na verdade pareceu bem ao Espírito Santo e a nós, não vos impor mais encargo algum, senão estas coisas necessárias: Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da prostituição, das quais coisas bem fazeis se vos guardardes. Bem vos vá." (At 15.28,29 ARC Fiel).
VERDADE PRÁTICA
O objetivo de um concílio eclesiástico, convocado sob orientação divina, é preservar a unidade da Igreja no Espírito Santo e conservar a sã doutrina.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Atos 15.6-12
6-Os apóstolos e os presbíteros se reuniram para considerar essa questão.
7-Depois de muita discussão, Pedro levantou-se e dirigiu-se a eles: "Irmãos, vocês sabem que há muito tempo Deus me escolheu dentre vocês para que os gentios ouvissem de meus lábios a mensagem do evangelho e cressem.
8-Deus, que conhece os corações, demonstrou que os aceitou, dando-lhes o Espírito Santo, como antes nos tinha concedido.
9-Ele não fez distinção alguma entre nós e eles, visto que purificou os seus corações pela fé.
10-Então, por que agora vocês estão querendo tentar a Deus, impondo sobre os discípulos um jugo que nem nós nem nossos antepassados conseguimos suportar?
11-De modo nenhum! Cremos que somos salvos pela graça de nosso Senhor Jesus, assim como eles também".
12-Toda a assembléia ficou em silêncio, enquanto ouvia Barnabé e Paulo falando de todos os sinais e maravilhas que, por meio deles, Deus fizera entre os gentios
I. INTRODUÇÃO
O capítulo 15 de Atos registra a reunião do primeiro concílio convocado para resolver um problema muito importante, a saber, a relação entre gentios e judeus e as condições em que os primeiros seriam salvos: devia os gentios guardar a lei mosaica para serem salvos? Devia os gentios ter igualdade religiosa com os judeus? Paulo evangelizou os gentios sem os judaizar. Os radicais que permeavam a Igreja queriam que esses novos convertidos adotassem o costume judaico. Como vencer essas dificuldades que pareciam impedir a formação de uma igreja única? Como unir os gentios religiosamente sem a obrigação de guardar a lei mosaica? Como uni-los socialmente como irmãos iguais na família de um pai comum? A solução deve ter parecido impossível naquele dia e sem a intervenção da graça divina teria sido impossível. Uma excelente e abençoada aula!
II. DESENVOLVIMENTO
I. O QUE É UM CONCÍLIO
1. Definição.
Concílio (latim concilium, reunião, assembleia, concílio, entrevista) Assembleia do alto clero para tomar decisões disciplinares ou de fé; Cânones ou decisões conciliares; Congresso; assembleia [1]. O vocábulo concílio foi substituído, na atualidade, pelo termo convenção. O importante é que estas reuniões, tanto ordinárias como extraordinárias, sejam assistidas pelo Espírito Santo.
2. Os concílios no Antigo testamento.
‘Vai, e ajunta os anciãos de Israel e dize-lhes: O SENHOR Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, me apareceu, dizendo: Certamente vos tenho visitado e visto o que vos é feito no Egito’ (Gn 3.16), essa é a primeira ocasião em que surge a necessidade do povo de Deus reunir-se em assembléia para a tomada de uma importante decisão. YAHWEH ordena a Moisés que reúna os anciãos (literalmente ‘os barbados’), aqueles em idade avançada que, pela grande experiência e autoridade, eram os líderes do povo hebreu. Esses são os cabeças de famílias que representariam Israel. Moisés cumpre esta ordem no capítulo 4.29, como citado pelo comentarista.
3. Os concílios no Novo testamento.
Além deste concílio em Jerusalém, a Igreja havia se reunido outras duas ocasiões, para solucionar os muitos problemas que surgiram. Temos o registro do primeiro concílio em At 1.15 para a escolha do substituto de Judas. Depois, At 6.2 mostra outra solene convocação da multidão dos discípulos para a escolha dos Diáconos, esta assembléia seguiu o modelo determinado por Jesus (Mt 18.15-17). O Concílio de Jerusalém é citado como o primeiro e mais importante concílio da Igreja em sua história, talvez em virtude da importância de suas decisões para a expansão do Evangelho. Earle E. Cairns em seu livro ‘O Cristianismo Através dos Século’ afirma que este encontro reservado parece ter sido seguido por outro encontro da Igreja toda no qual a decisão tomada foi referendada por todos os presentes (At 15.7-29) [2].
SINÓPSE DO TÓPICO (1)
O Concílio é uma reunião de representantes da Igreja, com o objetivo de deliberar acerca da fé, doutrinas e costumes eclesiásticos.
II. A IMPORTÂNCIA DO CONCÍLIO DE JERUSALÉM
Os historiadores da Igreja chamaram este simples, mas decisivo encontro como o Concílio de Jerusalém, ocorrido no ano de 49 d.C. Ele seria o marco definitivo da ruptura do judaísmo com o cristianismo. A admissão de gentios (não-judeus) era um fato de difícil compreensão para os crentes-judeus, que ainda se encontravam em parte presos às velhas tradições e práticas antigas. Entre eles estabeleceu-se uma dúvida e uma polêmica: saber se os gentios, ao se converterem ao cristianismo, teriam que adotar algumas das práticas antigas da Lei Mosaica para poderem ser salvos, inclusive o fazer-se circuncidar.
1. Convocação.
A visita dos judaizantes a Antioquia, ostensivamente com autoridade de Tiago para pregar à moda antiga (At 15.24), provocou o encontro de Jerusalém, em 49 ou 50, a fim de discutir o problema [3]. Para tratar da aplicabilidade ou da convivência da Lei Antiga com a Lei Nova reuniram-se todos os apóstolos em "concílio". Paulo e Barnabé se fizeram portadores do ponto de vista das comunidades não-judaicas e Pedro manifestou-se a favor da liberdade dos cristãos com relação à Lei Antiga. Após um período curto, mas intenso, de discussões a liderança da Igreja em Antioquia entende ser melhor levar a discussão para Jerusalém. Não enxergo aqui uma subordinação hierárquica à Igreja de Jerusalém. A razão de subirem a Jerusalém não esta vinculada a falta de autonomia ou uma subordinação eclesiástica, mas unicamente pelo fato de que ainda por aqueles dias vários apóstolos permaneciam naquela comunidade e poderiam dar maior embasamento à resolução deste debate – o que realmente veio acontecer.
2. Presidência.
Neste ponto discordo do nobre comentarista ao afirmar que Pedro presidiu este concílio. “Quando terminaram de falar, Tiago tomou a palavra e disse: ‘Irmãos, ouçam-me!’”(At 15.13). Em seguida, Tiago passa a expor tudo aquilo que deveria ser escrito na carta aos gentios que levara a essa contenda entre eles: “Portanto, julgo que não devemos pôr dificuldades aos gentios que estão se convertendo a Deus. Pelo contrário, devemos escrever a eles, dizendo-lhes que se abstenham de comida contaminada pelos ídolos, da imoralidade sexual, da carne de animais estrangulados e do sangue. “Pois, desde os tempos antigos, Moisés é pregado em todas as cidades, sendo lido nas sinagogas todos os sábados” (At 15.19-21). E foi exatamente essa a carta enviada aos gentios, baseada inteiramente nas palavras de Tiago, e não de Pedro ou de qualquer outro. Quem deu a palavra final foi Tiago, e não Pedro, o que nos mostra que era Tiago quem exercia um cargo proeminente dentro da Igreja primitiva. Pedro teve apenas um dos papéis de fala tanto quanto Paulo e Barnabé (At 15.12), mas quem falou em nome do corpo de apóstolos foi Tiago.
3. Debates.
Os ‘da circuncisão’ (cristãos judeus), principalmente da igreja de Jerusalém, que criam que o sinal da circuncisão do AT era necessário a todos os crentes da Nova Aliança, ensinavam que os crentes judaicos não deviam comer com crentes gentios não circuncidados e que não observassem os costumes e as restrições sobre os alimentos dos judeus. Pedro, embora soubesse que Deus aceitava os crentes gentios sem parcialidade (At 10.34,35), opôs-se a suas próprias convicções, talvez por receio das críticas e da possível perda de autoridade na igreja em Jerusalém. Seu afastamento da comunhão com os crentes gentios, nas refeições, favoreceu a doutrina errônea de que o corpo de Cristo estava dividido: o judaico e o gentio. Figuras principais deste Concílio foram Pedro, Paulo, Barnabé e Tiago, que tiveram oportunidade de expor suas idéias perante o Concílio, vejamos suas exposições:
a) Pedro
Atos 15, 7-11: Depois de uma longa discussão, Pedro se levantou e lhes disse: “Irmãos! Sabeis que desde muito tempo Deus fez uma escolha entre vós: que os pagãos ouvissem de minha boca o Evangelho e abraçassem a fé. E Deus, que conhece os corações, manifestou-se em favor deles, dando-lhes o Espírito Santo do mesmo modo que a nós, sem fazer nenhuma distinção entre nós e eles, depois de purificar seus corações pela fé. Por que agora tentais a Deus, impondo aos discípulos um peso que nem nossos pais nem nós mesmos pudemos suportar? Mais uma vez: pela graça do Senhor Jesus é que nós cremos ter alcançado a salvação, exatamente como eles”.
Ao questionar sobre os que queriam impor aos outros os preceitos da Lei Mosaica, diz que quem agia desta maneira estava tentando a Deus. E, para ser coerente com o que já vinha fazendo na prática, não poderia agir de outro modo.
Na pratica Pedro também não concordava com a imposição de se fazer a circuncisão aos convertidos, isso fica mais claro quando recorremos à Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, numa de suas notas explicativas, ao rodapé da página:
“O discurso de Pedro é fundamental e contém a orientação conciliar. Pedro parte de fatos concretos: ele foi o primeiro evangelizador dos pagãos e compreendeu que Deus não faz distinção entre pagão e judeu (cf. At. 10, 34, 44-47), mas concede a ambos o mesmo Espírito Santo que leva o homem a seguir Jesus. Depois, Pedro salienta que os costumes judaicos são um jugo, isto é, um elemento cultural que não deve ser imposto aos pagãos, pois o que salva a todos é a graça que leva à fé em Jesus Cristo. Barnabé e Paulo reforçam o testemunho de Pedro”.
Aqui fica mais evidente ainda que Pedro e Paulo não eram divergentes quanto à essa questão. E, que, no princípio, Pedro pregou também aos pagãos.
b) Paulo
Atos 15, 12: Toda a assembléia ficou em silêncio e escutou a Barnabé e Paulo relatarem todos os sinais e prodígios que Deus tinha feito entre os pagãos por meio deles.
Paulo, nesse momento, relata tudo o que aconteceu a ele e Barnabé quando estavam a divulgar o Evangelho do Cristo. Aí coloca, com certeza, o que faziam sobre o assunto do concílio, explicando que eram totalmente contra essa prática.
c) Tiago
Atos 15, 13-20: Quando acabaram de falar, Tiago tomou a palavra e disse: “Irmãos, escutai-me! Simão acabou de explicar como Deus, logo de início, se dignou separar dentre os pagãos um povo consagrado a Ele. Isto concorda com a palavra dos profetas, porque está escrito: Depois disso, voltarei e reconstruirei a tenda arruinada de Davi. Reedificarei as suas ruínas e as reerguerei. Os outros homens irão procurar o Senhor, como também as nações que foram consagradas pela invocação de meu Nome. Assim fala o Senhor, que faz essas coisas conhecidas desde os tempos mais antigos. Julgo, por isso, que deixeis de molestar os que se convertem do paganismo para Deus. Basta lhes escrever que não se contaminem com a idolatria ou uniões ilegais, nem tampouco comendo sangue ou carne de animais estrangulados. Porque desde muito tempo a Lei de Moisés está sendo lida e proclamada todos os sábados nas sinagogas de cada cidade”.
Tiago, depois de ouvir Pedro e a Paulo, toma posição favorável a não haver necessidade de circuncidar os convertidos. Mas, algumas exigências da Lei Mosaica ficaram ainda em vigor, entretanto não estavam relacionadas ao problema da circuncisão. Foram elas: abster da carne imolada dos ídolos, do uso do sangue e da carne de animais estrangulados e das uniões ilegais.
d) Decisão do concílio
Atos 15, 22-29: Os apóstolos, presbíteros e toda a assembléia resolveram então escolher entre eles alguns homens e enviá-los a Antioquia junto com Paulo e Barnabé. Eram eles: Judas, Barsabás e Silas, homens de muito prestígio entre os irmãos. Por seu intermédio lhes foi enviada a seguinte carta: “Os apóstolos e presbíteros, vossos irmãos, aos irmãos que moram em Antioquia, na Síria e na Cilícia, provenientes do paganismo. Saudações. Fomos informados de que alguns dos nossos, sem nossa autorização, vos foram inquietar com certas afirmações, criando confusão em vossas mentes. Resolvemos por unanimidade escolher alguns representantes e enviá-los a vós, junto com nossos queridos irmãos Barnabé e Paulo. Estes dois têm dedicado suas vidas à causa de Nosso Senhor Jesus Cristo. Enviamos, pois, Judas e Silas, para vos transmitir de viva voz as mesmas diretivas. Porque o Espírito Santo e nós mesmos decidimos não vos impor nenhum outro peso além do indispensável: abster-vos da carne imolada dos ídolos, do uso do sangue e da carne de animais estrangulados e das uniões ilegais. Fareis bem evitando isto tudo. Passai bem!”.
A opinião de Tiago acaba por ser a decisão final do Concílio, que para ficar bem registrada e para que todos pudessem cumprir a decisão tomada deu origem a uma carta que foi enviada aos convertidos do paganismo que moravam em Antioquia, na Síria e na Cilícia.
SINÓPSE DO TÓPICO (2)
A importância do concílio de Jerusalém, instrumentalizado pelo Espírito Santo, foi universalizar o Reino de Deus, levando-o até aos confins da terra.
III. A CARTA DE JERUSALÉM
O desejo comum e verdadeiro de conhecer a mente de Deus leva à unanimidade. A Igreja que possui o Espírito Santo tem a garantia de não estar desamparada. O Espírito Santo trouxe concordância harmoniosa aos líderes diante de uma ‘não pequena discussão’ e ‘grande contenda’ (At 15.22). Foram estabelecidos certos limites que possibilitariam a convivência harmoniosa entre os cristãos judaicos e os gentios. Os gentios deviam abster-se de certas práticas consideradas ofensivas aos judeus, o que foi resumido na primeira encíclica da Igreja da seguinte forma:
1. Da salvação pela graça.
O cerne da conferência de Jerusalém era se a circuncisão e a obediência à lei Mosaica eram necessárias à salvação em Cristo. Os representantes que se reuniram ali chegaram à conclusão de que os gentios eram salvos pela graça do Senhor Jesus, que lhes perdoara os pecados e deles fizera novas criaturas. A graça é concedida à pessoa que se arrepende do pecado e crê em Cristo como Senhor e Salvador (At 2.38,39). Essa receptividade à graça de Deus capacita a pessoa a receber o poder de tornar-se filho de Deus (Jo 1.12). "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Ef 2.8); em suas cartas, Paulo se refere à salvação ou como um acontecimento futuro (Rm 5.9,10) ou como um processo presente (1Co 1.18); 2Co 2.15). Em Rm 8.24, Paulo refere-se à salvação como fato consumado no passado, mas ainda por ser completada no retorno de Cristo: ‘Porque, na esperança, fomos salvos’.
2. Da comida sacrificada aos ídolos.
Esse preceito diz respeito às restrições que se referem aos alimentos sacrificados aos ídolos. Esse assunto foi aprofundado por Paulo em Rm14.13-16; 1Co 8.7-15 e 10.23-33. Paulo afirma que aqueles que, pelo seu exemplo, levam outros ao pecado e à ruína espiritual incorrem em pecado, não somente contra aquela pessoa, mas também contra o próprio Cristo.
3. Da ingestão de sangue e de carne sufocada.
A proibição de ingerir sangue está prevista em Lv 3.17, porém, os gentios desconheciam esse padrão divino e costumavam utilizar o sangue como alimento e bebida. Neste ponto, aliás, as testemunhas de Jeová interpretam esta passagem de Levítico como proibição para a transfusão de sangue, o que não resiste a uma análise do texto, pois o sangue ali não é humano, mas de animais, fato explícito pelos termos ‘carne sufocada’ em referencia à carne animal. Do contrário, teriam que admitir que a ‘carne sufocada’ seja uma referência à carne humana. (Para uma refutação a essa crença, veja Mt 12.3-7). Era muito comum entre os gentios o abate de animais sem derramar o sangue, o que era proibido a Israel (Gn 9.5; 17.10-16; Dt 12.16, 23-25). Os judeus sempre matavam os animais que iriam comer, degolando-os e deixando o sangue todo escorrer. Os outros povos muitas vezes matavam por sufocamento ou destroncando o pescoço do animal ou da ave que seria consumida. Assim, o sangue permanecia na carne e nós hoje sabemos que o sangue transmite doenças e, por isso, deve ser evitado. Em outras palavras, é bom não comer carne com sangue, ou alimentos feitos de sangue animal, como o chouriço, por exemplo.
4. Das relações sexuais ilícitas.
O padrão moral dos gentios não se assemelhava ao judaico-cristão. Para quem nasceu numa cultura licenciosa, era fácil ter uma recaída e naufragarem nessas práticas licenciosas. O crente, antes de mais nada, precisa ser moral e sexualmente puro (cf. 2Co 11.2; Tt 2.5; 1Pe 3.2). A palavra “puro” (gr. hagnos ou amiantos) significa livre de toda mácula da lascívia. O termo refere-se a abstenção de todos os atos e pensamentos que incitam desejos incompatíveis com a virgindade e a castidade ou com os votos matrimoniais da pessoa. Refere-se, também, ao domínio próprio e a abstenção de qualquer atividade sexual que contamina a pureza da pessoa diante de Deus. Isso abrange o controle do corpo “em santificação e honra” (1Ts 4.4) e não em “concupiscência” (4.5). Este ensino das Escrituras é tanto para os solteiros, como para os casados [4].
SINÓPSE DO TÓPICO (3)
As resoluções do Concílio de Jerusalém consistiram dos seguintes temas: Salvação pela graça; Comida sacrificada aos ídolos; Ingestão de sangue, e de carne sufocada; Relações sexuais ilícitas.
III. CONCLUSÃO
Ao retornar de sua primeira viagem missionária, Paulo defronta-se com um sério problema na Igreja judaica – gentios convertidos sem a obrigação de guardar os costumes judaicos. A conversão de gentios ao Evangelho não era questionado, o problema era judaizar. Até Pedro se deixou levar por essa dissimulação fazendo vista grossa (Gl 2.11-13). A experiência do apóstolo dos gentios em sua viagem falava alto como Deus agiu poderosamente entre os novos convertidos sem o ritualismo judaico. Esse concílio trouxe as bases para a nova Igreja e se a decisão fosse outra, teríamos uma ‘medíocre’ seita judaica. A decisão influenciada pelo Espírito Santo trouxe o marco definitivo da ruptura do judaísmo com o cristianismo.
- As decisões da igreja não devem ser tomadas apenas pelo homem; a liderança reunida deve buscar a direção do Espírito Santo até que a vontade divina seja claramente discernida (At 13.2-4). Este concílio foi dirigido pelo Espírito Santo, com Jesus havia prometido: ‘Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade’ (Jo 16.13). Uma marca da igreja verdadeira, é ouvir o que o Espírito diz às igrejas ( Ap 2.7).Ficou estabelecido certos limites que possibilitaram a convivência harmoniosa entre a Igreja judaica e a Igreja gentia: Os gentios deviam se abster de certas práticas consideradas ofensivas aos judeus. Paulo faz uso dessa norma em 1Co 8.1-11 ao afirmar que aqueles que, pelo seu exemplo, levam outros ao pecado e à ruína espiritual pecam, não somente contra aquela pessoa, mas também contra o próprio Cristo. A aferição do grau de maturidade do crente é ver a sua disposição de refrear-se das práticas que outros crentes consideram certas e outros consideram erradas.
TEXTO ÁUREO
"Na verdade pareceu bem ao Espírito Santo e a nós, não vos impor mais encargo algum, senão estas coisas necessárias: Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da prostituição, das quais coisas bem fazeis se vos guardardes. Bem vos vá." (At 15.28,29 ARC Fiel).
VERDADE PRÁTICA
O objetivo de um concílio eclesiástico, convocado sob orientação divina, é preservar a unidade da Igreja no Espírito Santo e conservar a sã doutrina.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Atos 15.6-12
6-Os apóstolos e os presbíteros se reuniram para considerar essa questão.
7-Depois de muita discussão, Pedro levantou-se e dirigiu-se a eles: "Irmãos, vocês sabem que há muito tempo Deus me escolheu dentre vocês para que os gentios ouvissem de meus lábios a mensagem do evangelho e cressem.
8-Deus, que conhece os corações, demonstrou que os aceitou, dando-lhes o Espírito Santo, como antes nos tinha concedido.
9-Ele não fez distinção alguma entre nós e eles, visto que purificou os seus corações pela fé.
10-Então, por que agora vocês estão querendo tentar a Deus, impondo sobre os discípulos um jugo que nem nós nem nossos antepassados conseguimos suportar?
11-De modo nenhum! Cremos que somos salvos pela graça de nosso Senhor Jesus, assim como eles também".
12-Toda a assembléia ficou em silêncio, enquanto ouvia Barnabé e Paulo falando de todos os sinais e maravilhas que, por meio deles, Deus fizera entre os gentios
I. INTRODUÇÃO
O capítulo 15 de Atos registra a reunião do primeiro concílio convocado para resolver um problema muito importante, a saber, a relação entre gentios e judeus e as condições em que os primeiros seriam salvos: devia os gentios guardar a lei mosaica para serem salvos? Devia os gentios ter igualdade religiosa com os judeus? Paulo evangelizou os gentios sem os judaizar. Os radicais que permeavam a Igreja queriam que esses novos convertidos adotassem o costume judaico. Como vencer essas dificuldades que pareciam impedir a formação de uma igreja única? Como unir os gentios religiosamente sem a obrigação de guardar a lei mosaica? Como uni-los socialmente como irmãos iguais na família de um pai comum? A solução deve ter parecido impossível naquele dia e sem a intervenção da graça divina teria sido impossível. Uma excelente e abençoada aula!
II. DESENVOLVIMENTO
I. O QUE É UM CONCÍLIO
1. Definição.
Concílio (latim concilium, reunião, assembleia, concílio, entrevista) Assembleia do alto clero para tomar decisões disciplinares ou de fé; Cânones ou decisões conciliares; Congresso; assembleia [1]. O vocábulo concílio foi substituído, na atualidade, pelo termo convenção. O importante é que estas reuniões, tanto ordinárias como extraordinárias, sejam assistidas pelo Espírito Santo.
2. Os concílios no Antigo testamento.
‘Vai, e ajunta os anciãos de Israel e dize-lhes: O SENHOR Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, me apareceu, dizendo: Certamente vos tenho visitado e visto o que vos é feito no Egito’ (Gn 3.16), essa é a primeira ocasião em que surge a necessidade do povo de Deus reunir-se em assembléia para a tomada de uma importante decisão. YAHWEH ordena a Moisés que reúna os anciãos (literalmente ‘os barbados’), aqueles em idade avançada que, pela grande experiência e autoridade, eram os líderes do povo hebreu. Esses são os cabeças de famílias que representariam Israel. Moisés cumpre esta ordem no capítulo 4.29, como citado pelo comentarista.
3. Os concílios no Novo testamento.
Além deste concílio em Jerusalém, a Igreja havia se reunido outras duas ocasiões, para solucionar os muitos problemas que surgiram. Temos o registro do primeiro concílio em At 1.15 para a escolha do substituto de Judas. Depois, At 6.2 mostra outra solene convocação da multidão dos discípulos para a escolha dos Diáconos, esta assembléia seguiu o modelo determinado por Jesus (Mt 18.15-17). O Concílio de Jerusalém é citado como o primeiro e mais importante concílio da Igreja em sua história, talvez em virtude da importância de suas decisões para a expansão do Evangelho. Earle E. Cairns em seu livro ‘O Cristianismo Através dos Século’ afirma que este encontro reservado parece ter sido seguido por outro encontro da Igreja toda no qual a decisão tomada foi referendada por todos os presentes (At 15.7-29) [2].
SINÓPSE DO TÓPICO (1)
O Concílio é uma reunião de representantes da Igreja, com o objetivo de deliberar acerca da fé, doutrinas e costumes eclesiásticos.
II. A IMPORTÂNCIA DO CONCÍLIO DE JERUSALÉM
Os historiadores da Igreja chamaram este simples, mas decisivo encontro como o Concílio de Jerusalém, ocorrido no ano de 49 d.C. Ele seria o marco definitivo da ruptura do judaísmo com o cristianismo. A admissão de gentios (não-judeus) era um fato de difícil compreensão para os crentes-judeus, que ainda se encontravam em parte presos às velhas tradições e práticas antigas. Entre eles estabeleceu-se uma dúvida e uma polêmica: saber se os gentios, ao se converterem ao cristianismo, teriam que adotar algumas das práticas antigas da Lei Mosaica para poderem ser salvos, inclusive o fazer-se circuncidar.
1. Convocação.
A visita dos judaizantes a Antioquia, ostensivamente com autoridade de Tiago para pregar à moda antiga (At 15.24), provocou o encontro de Jerusalém, em 49 ou 50, a fim de discutir o problema [3]. Para tratar da aplicabilidade ou da convivência da Lei Antiga com a Lei Nova reuniram-se todos os apóstolos em "concílio". Paulo e Barnabé se fizeram portadores do ponto de vista das comunidades não-judaicas e Pedro manifestou-se a favor da liberdade dos cristãos com relação à Lei Antiga. Após um período curto, mas intenso, de discussões a liderança da Igreja em Antioquia entende ser melhor levar a discussão para Jerusalém. Não enxergo aqui uma subordinação hierárquica à Igreja de Jerusalém. A razão de subirem a Jerusalém não esta vinculada a falta de autonomia ou uma subordinação eclesiástica, mas unicamente pelo fato de que ainda por aqueles dias vários apóstolos permaneciam naquela comunidade e poderiam dar maior embasamento à resolução deste debate – o que realmente veio acontecer.
2. Presidência.
Neste ponto discordo do nobre comentarista ao afirmar que Pedro presidiu este concílio. “Quando terminaram de falar, Tiago tomou a palavra e disse: ‘Irmãos, ouçam-me!’”(At 15.13). Em seguida, Tiago passa a expor tudo aquilo que deveria ser escrito na carta aos gentios que levara a essa contenda entre eles: “Portanto, julgo que não devemos pôr dificuldades aos gentios que estão se convertendo a Deus. Pelo contrário, devemos escrever a eles, dizendo-lhes que se abstenham de comida contaminada pelos ídolos, da imoralidade sexual, da carne de animais estrangulados e do sangue. “Pois, desde os tempos antigos, Moisés é pregado em todas as cidades, sendo lido nas sinagogas todos os sábados” (At 15.19-21). E foi exatamente essa a carta enviada aos gentios, baseada inteiramente nas palavras de Tiago, e não de Pedro ou de qualquer outro. Quem deu a palavra final foi Tiago, e não Pedro, o que nos mostra que era Tiago quem exercia um cargo proeminente dentro da Igreja primitiva. Pedro teve apenas um dos papéis de fala tanto quanto Paulo e Barnabé (At 15.12), mas quem falou em nome do corpo de apóstolos foi Tiago.
3. Debates.
Os ‘da circuncisão’ (cristãos judeus), principalmente da igreja de Jerusalém, que criam que o sinal da circuncisão do AT era necessário a todos os crentes da Nova Aliança, ensinavam que os crentes judaicos não deviam comer com crentes gentios não circuncidados e que não observassem os costumes e as restrições sobre os alimentos dos judeus. Pedro, embora soubesse que Deus aceitava os crentes gentios sem parcialidade (At 10.34,35), opôs-se a suas próprias convicções, talvez por receio das críticas e da possível perda de autoridade na igreja em Jerusalém. Seu afastamento da comunhão com os crentes gentios, nas refeições, favoreceu a doutrina errônea de que o corpo de Cristo estava dividido: o judaico e o gentio. Figuras principais deste Concílio foram Pedro, Paulo, Barnabé e Tiago, que tiveram oportunidade de expor suas idéias perante o Concílio, vejamos suas exposições:
a) Pedro
Atos 15, 7-11: Depois de uma longa discussão, Pedro se levantou e lhes disse: “Irmãos! Sabeis que desde muito tempo Deus fez uma escolha entre vós: que os pagãos ouvissem de minha boca o Evangelho e abraçassem a fé. E Deus, que conhece os corações, manifestou-se em favor deles, dando-lhes o Espírito Santo do mesmo modo que a nós, sem fazer nenhuma distinção entre nós e eles, depois de purificar seus corações pela fé. Por que agora tentais a Deus, impondo aos discípulos um peso que nem nossos pais nem nós mesmos pudemos suportar? Mais uma vez: pela graça do Senhor Jesus é que nós cremos ter alcançado a salvação, exatamente como eles”.
Ao questionar sobre os que queriam impor aos outros os preceitos da Lei Mosaica, diz que quem agia desta maneira estava tentando a Deus. E, para ser coerente com o que já vinha fazendo na prática, não poderia agir de outro modo.
Na pratica Pedro também não concordava com a imposição de se fazer a circuncisão aos convertidos, isso fica mais claro quando recorremos à Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, numa de suas notas explicativas, ao rodapé da página:
“O discurso de Pedro é fundamental e contém a orientação conciliar. Pedro parte de fatos concretos: ele foi o primeiro evangelizador dos pagãos e compreendeu que Deus não faz distinção entre pagão e judeu (cf. At. 10, 34, 44-47), mas concede a ambos o mesmo Espírito Santo que leva o homem a seguir Jesus. Depois, Pedro salienta que os costumes judaicos são um jugo, isto é, um elemento cultural que não deve ser imposto aos pagãos, pois o que salva a todos é a graça que leva à fé em Jesus Cristo. Barnabé e Paulo reforçam o testemunho de Pedro”.
Aqui fica mais evidente ainda que Pedro e Paulo não eram divergentes quanto à essa questão. E, que, no princípio, Pedro pregou também aos pagãos.
b) Paulo
Atos 15, 12: Toda a assembléia ficou em silêncio e escutou a Barnabé e Paulo relatarem todos os sinais e prodígios que Deus tinha feito entre os pagãos por meio deles.
Paulo, nesse momento, relata tudo o que aconteceu a ele e Barnabé quando estavam a divulgar o Evangelho do Cristo. Aí coloca, com certeza, o que faziam sobre o assunto do concílio, explicando que eram totalmente contra essa prática.
c) Tiago
Atos 15, 13-20: Quando acabaram de falar, Tiago tomou a palavra e disse: “Irmãos, escutai-me! Simão acabou de explicar como Deus, logo de início, se dignou separar dentre os pagãos um povo consagrado a Ele. Isto concorda com a palavra dos profetas, porque está escrito: Depois disso, voltarei e reconstruirei a tenda arruinada de Davi. Reedificarei as suas ruínas e as reerguerei. Os outros homens irão procurar o Senhor, como também as nações que foram consagradas pela invocação de meu Nome. Assim fala o Senhor, que faz essas coisas conhecidas desde os tempos mais antigos. Julgo, por isso, que deixeis de molestar os que se convertem do paganismo para Deus. Basta lhes escrever que não se contaminem com a idolatria ou uniões ilegais, nem tampouco comendo sangue ou carne de animais estrangulados. Porque desde muito tempo a Lei de Moisés está sendo lida e proclamada todos os sábados nas sinagogas de cada cidade”.
Tiago, depois de ouvir Pedro e a Paulo, toma posição favorável a não haver necessidade de circuncidar os convertidos. Mas, algumas exigências da Lei Mosaica ficaram ainda em vigor, entretanto não estavam relacionadas ao problema da circuncisão. Foram elas: abster da carne imolada dos ídolos, do uso do sangue e da carne de animais estrangulados e das uniões ilegais.
d) Decisão do concílio
Atos 15, 22-29: Os apóstolos, presbíteros e toda a assembléia resolveram então escolher entre eles alguns homens e enviá-los a Antioquia junto com Paulo e Barnabé. Eram eles: Judas, Barsabás e Silas, homens de muito prestígio entre os irmãos. Por seu intermédio lhes foi enviada a seguinte carta: “Os apóstolos e presbíteros, vossos irmãos, aos irmãos que moram em Antioquia, na Síria e na Cilícia, provenientes do paganismo. Saudações. Fomos informados de que alguns dos nossos, sem nossa autorização, vos foram inquietar com certas afirmações, criando confusão em vossas mentes. Resolvemos por unanimidade escolher alguns representantes e enviá-los a vós, junto com nossos queridos irmãos Barnabé e Paulo. Estes dois têm dedicado suas vidas à causa de Nosso Senhor Jesus Cristo. Enviamos, pois, Judas e Silas, para vos transmitir de viva voz as mesmas diretivas. Porque o Espírito Santo e nós mesmos decidimos não vos impor nenhum outro peso além do indispensável: abster-vos da carne imolada dos ídolos, do uso do sangue e da carne de animais estrangulados e das uniões ilegais. Fareis bem evitando isto tudo. Passai bem!”.
A opinião de Tiago acaba por ser a decisão final do Concílio, que para ficar bem registrada e para que todos pudessem cumprir a decisão tomada deu origem a uma carta que foi enviada aos convertidos do paganismo que moravam em Antioquia, na Síria e na Cilícia.
SINÓPSE DO TÓPICO (2)
A importância do concílio de Jerusalém, instrumentalizado pelo Espírito Santo, foi universalizar o Reino de Deus, levando-o até aos confins da terra.
III. A CARTA DE JERUSALÉM
O desejo comum e verdadeiro de conhecer a mente de Deus leva à unanimidade. A Igreja que possui o Espírito Santo tem a garantia de não estar desamparada. O Espírito Santo trouxe concordância harmoniosa aos líderes diante de uma ‘não pequena discussão’ e ‘grande contenda’ (At 15.22). Foram estabelecidos certos limites que possibilitariam a convivência harmoniosa entre os cristãos judaicos e os gentios. Os gentios deviam abster-se de certas práticas consideradas ofensivas aos judeus, o que foi resumido na primeira encíclica da Igreja da seguinte forma:
1. Da salvação pela graça.
O cerne da conferência de Jerusalém era se a circuncisão e a obediência à lei Mosaica eram necessárias à salvação em Cristo. Os representantes que se reuniram ali chegaram à conclusão de que os gentios eram salvos pela graça do Senhor Jesus, que lhes perdoara os pecados e deles fizera novas criaturas. A graça é concedida à pessoa que se arrepende do pecado e crê em Cristo como Senhor e Salvador (At 2.38,39). Essa receptividade à graça de Deus capacita a pessoa a receber o poder de tornar-se filho de Deus (Jo 1.12). "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Ef 2.8); em suas cartas, Paulo se refere à salvação ou como um acontecimento futuro (Rm 5.9,10) ou como um processo presente (1Co 1.18); 2Co 2.15). Em Rm 8.24, Paulo refere-se à salvação como fato consumado no passado, mas ainda por ser completada no retorno de Cristo: ‘Porque, na esperança, fomos salvos’.
2. Da comida sacrificada aos ídolos.
Esse preceito diz respeito às restrições que se referem aos alimentos sacrificados aos ídolos. Esse assunto foi aprofundado por Paulo em Rm14.13-16; 1Co 8.7-15 e 10.23-33. Paulo afirma que aqueles que, pelo seu exemplo, levam outros ao pecado e à ruína espiritual incorrem em pecado, não somente contra aquela pessoa, mas também contra o próprio Cristo.
3. Da ingestão de sangue e de carne sufocada.
A proibição de ingerir sangue está prevista em Lv 3.17, porém, os gentios desconheciam esse padrão divino e costumavam utilizar o sangue como alimento e bebida. Neste ponto, aliás, as testemunhas de Jeová interpretam esta passagem de Levítico como proibição para a transfusão de sangue, o que não resiste a uma análise do texto, pois o sangue ali não é humano, mas de animais, fato explícito pelos termos ‘carne sufocada’ em referencia à carne animal. Do contrário, teriam que admitir que a ‘carne sufocada’ seja uma referência à carne humana. (Para uma refutação a essa crença, veja Mt 12.3-7). Era muito comum entre os gentios o abate de animais sem derramar o sangue, o que era proibido a Israel (Gn 9.5; 17.10-16; Dt 12.16, 23-25). Os judeus sempre matavam os animais que iriam comer, degolando-os e deixando o sangue todo escorrer. Os outros povos muitas vezes matavam por sufocamento ou destroncando o pescoço do animal ou da ave que seria consumida. Assim, o sangue permanecia na carne e nós hoje sabemos que o sangue transmite doenças e, por isso, deve ser evitado. Em outras palavras, é bom não comer carne com sangue, ou alimentos feitos de sangue animal, como o chouriço, por exemplo.
4. Das relações sexuais ilícitas.
O padrão moral dos gentios não se assemelhava ao judaico-cristão. Para quem nasceu numa cultura licenciosa, era fácil ter uma recaída e naufragarem nessas práticas licenciosas. O crente, antes de mais nada, precisa ser moral e sexualmente puro (cf. 2Co 11.2; Tt 2.5; 1Pe 3.2). A palavra “puro” (gr. hagnos ou amiantos) significa livre de toda mácula da lascívia. O termo refere-se a abstenção de todos os atos e pensamentos que incitam desejos incompatíveis com a virgindade e a castidade ou com os votos matrimoniais da pessoa. Refere-se, também, ao domínio próprio e a abstenção de qualquer atividade sexual que contamina a pureza da pessoa diante de Deus. Isso abrange o controle do corpo “em santificação e honra” (1Ts 4.4) e não em “concupiscência” (4.5). Este ensino das Escrituras é tanto para os solteiros, como para os casados [4].
SINÓPSE DO TÓPICO (3)
As resoluções do Concílio de Jerusalém consistiram dos seguintes temas: Salvação pela graça; Comida sacrificada aos ídolos; Ingestão de sangue, e de carne sufocada; Relações sexuais ilícitas.
III. CONCLUSÃO
Ao retornar de sua primeira viagem missionária, Paulo defronta-se com um sério problema na Igreja judaica – gentios convertidos sem a obrigação de guardar os costumes judaicos. A conversão de gentios ao Evangelho não era questionado, o problema era judaizar. Até Pedro se deixou levar por essa dissimulação fazendo vista grossa (Gl 2.11-13). A experiência do apóstolo dos gentios em sua viagem falava alto como Deus agiu poderosamente entre os novos convertidos sem o ritualismo judaico. Esse concílio trouxe as bases para a nova Igreja e se a decisão fosse outra, teríamos uma ‘medíocre’ seita judaica. A decisão influenciada pelo Espírito Santo trouxe o marco definitivo da ruptura do judaísmo com o cristianismo.
- As decisões da igreja não devem ser tomadas apenas pelo homem; a liderança reunida deve buscar a direção do Espírito Santo até que a vontade divina seja claramente discernida (At 13.2-4). Este concílio foi dirigido pelo Espírito Santo, com Jesus havia prometido: ‘Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade’ (Jo 16.13). Uma marca da igreja verdadeira, é ouvir o que o Espírito diz às igrejas ( Ap 2.7).Ficou estabelecido certos limites que possibilitaram a convivência harmoniosa entre a Igreja judaica e a Igreja gentia: Os gentios deviam se abster de certas práticas consideradas ofensivas aos judeus. Paulo faz uso dessa norma em 1Co 8.1-11 ao afirmar que aqueles que, pelo seu exemplo, levam outros ao pecado e à ruína espiritual pecam, não somente contra aquela pessoa, mas também contra o próprio Cristo. A aferição do grau de maturidade do crente é ver a sua disposição de refrear-se das práticas que outros crentes consideram certas e outros consideram erradas.
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Pregador da Palavra de Deus, Redator da Revista Visão Missionária e Professor da EBD
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1º Trimestre de 2011 - Lição 11
1º Trimestre de 2011 - Lição 10
O EVANGELHO PROPAGA-SE ENTRE OS GENTIOS
No Antigo Testamento o termo "gentio" origina-se do hebraico goyim, que significa "nações" ou "estrangeiros". Encontramos esse termo em passagens como: Gn 10:5; Jz 4:3; Is 11:10; Jr 4:7; Lm 2:9; Ez 4:13; Os 8:8, etc.
No Novo Testamento, os substantivos gregos ethnos e hellen são traduzidos por "gentios":
- ethnos: esse termo transmite a ideia de "multidão de pessoas da mesma natureza ou gênero; nação, povo". Conforme Vine (2003, p. 673), é utilizado no singular, acerca dos judeus, quando então é traduzido por "nação" (Lc 7:5; 23:2; Jo 11:48, 50-52); no plural, acerca de nações não judaicas (Mt 4:15; Rm 3:29; 11:11; 15:10; Gl 2:8); circunstanciamente, é empregado também para ser referir aos convertidos gentios em distinção dos judeus (Rm 11:13; 16:4; Gl 2:12, 14; Ef 3:1);
- hellen: originalmente foi utilizado acerca dos primeiros descendentes da Heliéia Tessália; mais tarde passou a indicar os gregos em oposição aos bárbaros (Rm 1:14). É usado também em relação aos gentios que falavam o idioma grego (Gl 2:3; 3:28).
ASPECTOS DO PLANO DE DEUS PARA OS GENTIOS REVELADO NO ANTIGO TESTAMENTO
A palavra "gentios" ou "nações", foi primeiramente aplicada sem distinção para as divisões entre os descendentes de Sem, Cam e Jafé (Gn 10:5, 20, 31).
Com a contínua corrupção e arrogância das nações (Gn 11:1-9), mesmo após a disciplina através do dilúvio, fez com que o Senhor escolhesse Abraão, para através de um grandioso e maravilhoso plano dar às nações uma nova oportunidade de serem alcançadas com o seu amor, sua graça e perdão:
Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra. (Gn 12.1-3)
Como bem escreveu Pate (1987, p. 8), a promessa de Deus a Abraão deu início a um novo capítulo na história da humanidade. Deus manteve o seu plano para a redenção dos indivíduos e das nações, apenas mudando de método. Ele se identificaria de maneira especial com o povo de uma nação específica (Israel), promovendo o crescimento desse povo e nação, determinando o seus sistema social e político, fazendo-os prosperar e livrando-os dos seus inimigos:
A promessa feita a Abraão: "Em ti serão benditas todas as famílias da terra", é uma referência direta à vinda de Cristo, o Messias. Jesus Cristo, Filho de Davi, filho de Abraão, é o único por meio de quem todas as nações da terra podem ser abençoadas. De modo que, mesmo ao escolher a nação de Israel, Deus estava decidido a alcançar, levantar, elevar e redimir todos os povos da terra. (ibidem)
Bosch (2002, p. 37), interpreta os fatos acima citados, afirmando que:
[...] à medida que a compaixão de Javé se estende a Israel e além dele, torna-se gradativamente claro que, em última análise, Deus está tão preocupado com as nações quanto Israel. Com base em sua fé, Israel pode tirar duas conclusões fundamentais: visto que o Deus verdadeiro se deu a conhecer a Israel, ele só pode ser encontrado em Israel; e visto que o Deus de Israel é o único Deus verdadeiro, ele é também o Deus do mundo inteiro. A primeira conclusão enfatiza o isolamento e a exclusão do resto da humanidade; a segunda sugere uma abertura básica e a possibilidade de dirigir-se às nações (cf. Labuschagne, 1975, p. 9).
Ainda segundo Bosch (ibidem), no Antigo Testamento alguns aspectos positivos e escatológicos do plano de Deus para as nações podem ser vislumbrados. São eles:
- A espera e confiança das nações no Senhor (Is 51:5);
- A glória do Senhor será revelada a todas as nações (Is 40:5);
- Todas as extremidades da terra são conclamadas a olha para o Senhor e ser salvas (Is 45:22);
- Seu Servo será luz para os gentios (Is 42:6; 49:6);
- Uma estrada é construída do Egito e da Assíria até Jerusalém (Is 19:23);
- As nações encorajam umas e outras a subir a montanha do Senhor (Is 2:5) e levam presentes valiosos consigo (Is 8:7);
- O Egito será abençoado como povo de Deus, a Assíria como obra de suas mãos e Israel como a sua herança (Is 19:25);
- A expressão visível dessa reconciliação global será a celebração do banquete messiânico no monte de Deus, onde as nações contemplarão Deus com a face descoberta e a morte será tragada para sempre (Is 25:6-8).
Na medida que passamos do Antigo para o Novo Testamento, o plano de Deus para a salvação dos gentios fica mais claro e evidente.
ASPECTOS DO PLANO DE DEUS PARA OS GENTIOS REVELADO NO NOVO TESTAMENTO
No Evangelho de Mateus, mas do que em qualquer outro, as atividades de Jesus entre os gentios é enfatizada (HAHN, 1965, p. 103-11 apud BOSCH, 2002, p. 85). Num primeiro momento, os relatos parecem enfatizar o ministério de Jesus para com "as ovelhas perdidas da casa de Israel":
A estes doze enviou Jesus, dando-lhes as seguintes instruções: Não tomeis rumo aos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos; mas, de preferência, procurai as ovelhas perdidas da casa de Israel; (Mt 10:5-6)
Partindo Jesus dali, retirou-se para os lados de Tiro e Sidom. E eis que uma mulher cananéia, que viera daquelas regiões, clamava: Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de mim! Minha filha está horrivelmente endemoninhada. Ele, porém, não lhe respondeu palavra. E os seus discípulos, aproximando-se, rogaram-lhe: Despede-a, pois vem clamando atrás de nós. Mas Jesus respondeu: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel. Ela, porém, veio e o adorou, dizendo: Senhor, socorre-me! Então, ele, respondendo, disse: Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos. (Mt 15.21-26)
Nesse contexto, não há indícios de uma iniciativa missionária intencional de Jesus em relação aos gentios (BOSCH, ibdem, p. 87).
Acontece, que à medida que Mateus avança em sua narrativa, passa a relatar a participação dos gentios na vida e ministério de Jesus, e isso de forma significativa, ao citar as quatro mulheres não-israelitas em sua genealogia (cap. 1); a visita dos magos (2:1-12); no episódio que envolve o centurião de Cafarnaum declara a participação dos gentios à mesa no reino (8:5-13); no caso da mulher cananéia não omite o elogio que o Senhor lhe faz e a resposta ao seu pedido (15: 21-28) e a reação do centurião romano diante da crucificação (M7 27.54).
Mateus também trata de forma aberta sobre a pregação do Evangelho a todas as nações e povos (gr. panta ta ethne):
E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim. (Mt 24:14)
Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; (Mt 28:19)
É após a sua morte e ressurreição, que a comissão de pregar Evangelho com ousadia e sem reservas é dada claramente. No Evangelho de Marcos isso também é factual:
E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. (Mc 16:15)
Marcos também destaca a sua visita à província dos gadarenos, e a maneira como libertou um homem possuído por espírito imundo, que se tornou uma testemunha do seu poder em Decápolis (Mc 5:1-20).
No Evangelho de Lucas a missão ao gentios está implícita no episódio de Nazaré (ibdem, p. 118):
E prosseguiu: De fato, vos afirmo que nenhum profeta é bem recebido na sua própria terra. Na verdade vos digo que muitas viúvas havia em Israel no tempo de Elias, quando o céu se fechou por três anos e seis meses, reinando grande fome em toda a terra; e a nenhuma delas foi Elias enviado, senão a uma viúva de Sarepta de Sidom. Havia também muitos leprosos em Israel nos dias do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro. Todos na sinagoga, ouvindo estas coisas, se encheram de ira. E, levantando-se, expulsaram-no da cidade e o levaram até ao cimo do monte sobre o qual estava edificada, para, de lá, o precipitarem abaixo. Jesus, porém, passando por entre eles, retirou-se. (Lc 4.24-30)
Jesus, comunicou entre outras coisas, que Deus não era apenas o Deus de Israel, mas também, e de igual modo, o Deus dos gentios (ibdem). Na "Grande Comissão" de Lucas, que na realidade é apresentada em forma de um fato e promessa, e não de mandamento, a pregação a todas as nações é também citada:
[...] e lhes disse: Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém. (Lc 24:46-47)
Em Atos dos Apóstolos a missão aos gentios é novamente citada por Lucas, seguida dos episódios que desencadeiam de uma vez por todas a inclusão da mesma na "agenda" missionária:
[...] mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra. (At 1:8)
Ainda Pedro falava estas coisas quando caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. E os fiéis que eram da circuncisão, que vieram com Pedro, admiraram-se, porque também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo; pois os ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus. Então, perguntou Pedro: Porventura, pode alguém recusar a água, para que não sejam batizados estes que, assim como nós, receberam o Espírito Santo? (At 10:44-47)
Alguns deles, porém, que eram de Chipre e de Cirene e que foram até Antioquia, falavam também aos gregos, anunciando-lhes o evangelho do Senhor Jesus. A mão do Senhor estava com eles, e muitos, crendo, se converteram ao Senhor. (Atos 11:20-21)
Mas os judeus, vendo as multidões, tomaram-se de inveja e, blasfemando, contradiziam o que Paulo falava. Então, Paulo e Barnabé, falando ousadamente, disseram: Cumpria que a vós outros, em primeiro lugar, fosse pregada a palavra de Deus; mas, posto que a rejeitais e a vós mesmos vos julgais indignos da vida eterna, eis aí que nos volvemos para os gentios. (At 13:45-46)
À noite, sobreveio a Paulo uma visão na qual um varão macedônio estava em pé e lhe rogava, dizendo: Passa à Macedônia e ajuda-nos. Assim que teve a visão, imediatamente, procuramos partir para aquele destino, concluindo que Deus nos havia chamado para lhes anunciar o evangelho. (At 16:9-10)
Durou isto por espaço de dois anos, dando ensejo a que ouvissem a palavra do Senhor,todos os habitantes da Ásia tanto judeus como gregos. (At 19:10)
[...] jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa, testificando tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus [Cristo]. (At 20:20-21)
Nas epístolas, a mesma ênfase é dada, como por exemplo nos textos abaixo:
Porque não quero, irmãos, que ignoreis que, muitas vezes, me propus ir ter convosco (no que tenho sido, até agora, impedido), para conseguir igualmente entre vós algum fruto, como também entre os outros gentios. (Rm 1:13)
Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos. [...] Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. (Gl 3:8, 28)
No livro de Apocalipse (5:8-10), os gentios são contemplados no cântico dos quatro seres viventes e dos vinte e quatro anciãos:
e, quando tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um deles uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos, e entoavam novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra.
Estão presentes entre aqueles que vieram da grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do cordeiro:
Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos; [...] Respondi-lhe: meu Senhor, tu o sabes. Ele, então, me disse: São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro, razão por que se acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu santuário; e aquele que se assenta no trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo. Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima. (Ap 7:9, 14-17)
Diante de tudo isso, como bem escreveu Pate (ibdem, p. 7), o amor de Deus não se limita a uma raça, nação ou grupo cultural. Ele ama todos os povos. O amor de Deus ultrapassa todas as fronteiras, quer sejam geopolíticas, culturais, raciais ou linguísticas.
É fundamentada neste amor de Deus, manifesto a todos os povos, que a igreja inteira deve levar o evangelho inteiro para o mundo inteiro (BOSCH, ibdem, p. 28).
No Antigo Testamento o termo "gentio" origina-se do hebraico goyim, que significa "nações" ou "estrangeiros". Encontramos esse termo em passagens como: Gn 10:5; Jz 4:3; Is 11:10; Jr 4:7; Lm 2:9; Ez 4:13; Os 8:8, etc.
No Novo Testamento, os substantivos gregos ethnos e hellen são traduzidos por "gentios":
- ethnos: esse termo transmite a ideia de "multidão de pessoas da mesma natureza ou gênero; nação, povo". Conforme Vine (2003, p. 673), é utilizado no singular, acerca dos judeus, quando então é traduzido por "nação" (Lc 7:5; 23:2; Jo 11:48, 50-52); no plural, acerca de nações não judaicas (Mt 4:15; Rm 3:29; 11:11; 15:10; Gl 2:8); circunstanciamente, é empregado também para ser referir aos convertidos gentios em distinção dos judeus (Rm 11:13; 16:4; Gl 2:12, 14; Ef 3:1);
- hellen: originalmente foi utilizado acerca dos primeiros descendentes da Heliéia Tessália; mais tarde passou a indicar os gregos em oposição aos bárbaros (Rm 1:14). É usado também em relação aos gentios que falavam o idioma grego (Gl 2:3; 3:28).
ASPECTOS DO PLANO DE DEUS PARA OS GENTIOS REVELADO NO ANTIGO TESTAMENTO
A palavra "gentios" ou "nações", foi primeiramente aplicada sem distinção para as divisões entre os descendentes de Sem, Cam e Jafé (Gn 10:5, 20, 31).
Com a contínua corrupção e arrogância das nações (Gn 11:1-9), mesmo após a disciplina através do dilúvio, fez com que o Senhor escolhesse Abraão, para através de um grandioso e maravilhoso plano dar às nações uma nova oportunidade de serem alcançadas com o seu amor, sua graça e perdão:
Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra. (Gn 12.1-3)
Como bem escreveu Pate (1987, p. 8), a promessa de Deus a Abraão deu início a um novo capítulo na história da humanidade. Deus manteve o seu plano para a redenção dos indivíduos e das nações, apenas mudando de método. Ele se identificaria de maneira especial com o povo de uma nação específica (Israel), promovendo o crescimento desse povo e nação, determinando o seus sistema social e político, fazendo-os prosperar e livrando-os dos seus inimigos:
A promessa feita a Abraão: "Em ti serão benditas todas as famílias da terra", é uma referência direta à vinda de Cristo, o Messias. Jesus Cristo, Filho de Davi, filho de Abraão, é o único por meio de quem todas as nações da terra podem ser abençoadas. De modo que, mesmo ao escolher a nação de Israel, Deus estava decidido a alcançar, levantar, elevar e redimir todos os povos da terra. (ibidem)
Bosch (2002, p. 37), interpreta os fatos acima citados, afirmando que:
[...] à medida que a compaixão de Javé se estende a Israel e além dele, torna-se gradativamente claro que, em última análise, Deus está tão preocupado com as nações quanto Israel. Com base em sua fé, Israel pode tirar duas conclusões fundamentais: visto que o Deus verdadeiro se deu a conhecer a Israel, ele só pode ser encontrado em Israel; e visto que o Deus de Israel é o único Deus verdadeiro, ele é também o Deus do mundo inteiro. A primeira conclusão enfatiza o isolamento e a exclusão do resto da humanidade; a segunda sugere uma abertura básica e a possibilidade de dirigir-se às nações (cf. Labuschagne, 1975, p. 9).
Ainda segundo Bosch (ibidem), no Antigo Testamento alguns aspectos positivos e escatológicos do plano de Deus para as nações podem ser vislumbrados. São eles:
- A espera e confiança das nações no Senhor (Is 51:5);
- A glória do Senhor será revelada a todas as nações (Is 40:5);
- Todas as extremidades da terra são conclamadas a olha para o Senhor e ser salvas (Is 45:22);
- Seu Servo será luz para os gentios (Is 42:6; 49:6);
- Uma estrada é construída do Egito e da Assíria até Jerusalém (Is 19:23);
- As nações encorajam umas e outras a subir a montanha do Senhor (Is 2:5) e levam presentes valiosos consigo (Is 8:7);
- O Egito será abençoado como povo de Deus, a Assíria como obra de suas mãos e Israel como a sua herança (Is 19:25);
- A expressão visível dessa reconciliação global será a celebração do banquete messiânico no monte de Deus, onde as nações contemplarão Deus com a face descoberta e a morte será tragada para sempre (Is 25:6-8).
Na medida que passamos do Antigo para o Novo Testamento, o plano de Deus para a salvação dos gentios fica mais claro e evidente.
ASPECTOS DO PLANO DE DEUS PARA OS GENTIOS REVELADO NO NOVO TESTAMENTO
No Evangelho de Mateus, mas do que em qualquer outro, as atividades de Jesus entre os gentios é enfatizada (HAHN, 1965, p. 103-11 apud BOSCH, 2002, p. 85). Num primeiro momento, os relatos parecem enfatizar o ministério de Jesus para com "as ovelhas perdidas da casa de Israel":
A estes doze enviou Jesus, dando-lhes as seguintes instruções: Não tomeis rumo aos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos; mas, de preferência, procurai as ovelhas perdidas da casa de Israel; (Mt 10:5-6)
Partindo Jesus dali, retirou-se para os lados de Tiro e Sidom. E eis que uma mulher cananéia, que viera daquelas regiões, clamava: Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de mim! Minha filha está horrivelmente endemoninhada. Ele, porém, não lhe respondeu palavra. E os seus discípulos, aproximando-se, rogaram-lhe: Despede-a, pois vem clamando atrás de nós. Mas Jesus respondeu: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel. Ela, porém, veio e o adorou, dizendo: Senhor, socorre-me! Então, ele, respondendo, disse: Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos. (Mt 15.21-26)
Nesse contexto, não há indícios de uma iniciativa missionária intencional de Jesus em relação aos gentios (BOSCH, ibdem, p. 87).
Acontece, que à medida que Mateus avança em sua narrativa, passa a relatar a participação dos gentios na vida e ministério de Jesus, e isso de forma significativa, ao citar as quatro mulheres não-israelitas em sua genealogia (cap. 1); a visita dos magos (2:1-12); no episódio que envolve o centurião de Cafarnaum declara a participação dos gentios à mesa no reino (8:5-13); no caso da mulher cananéia não omite o elogio que o Senhor lhe faz e a resposta ao seu pedido (15: 21-28) e a reação do centurião romano diante da crucificação (M7 27.54).
Mateus também trata de forma aberta sobre a pregação do Evangelho a todas as nações e povos (gr. panta ta ethne):
E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim. (Mt 24:14)
Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; (Mt 28:19)
É após a sua morte e ressurreição, que a comissão de pregar Evangelho com ousadia e sem reservas é dada claramente. No Evangelho de Marcos isso também é factual:
E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. (Mc 16:15)
Marcos também destaca a sua visita à província dos gadarenos, e a maneira como libertou um homem possuído por espírito imundo, que se tornou uma testemunha do seu poder em Decápolis (Mc 5:1-20).
No Evangelho de Lucas a missão ao gentios está implícita no episódio de Nazaré (ibdem, p. 118):
E prosseguiu: De fato, vos afirmo que nenhum profeta é bem recebido na sua própria terra. Na verdade vos digo que muitas viúvas havia em Israel no tempo de Elias, quando o céu se fechou por três anos e seis meses, reinando grande fome em toda a terra; e a nenhuma delas foi Elias enviado, senão a uma viúva de Sarepta de Sidom. Havia também muitos leprosos em Israel nos dias do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro. Todos na sinagoga, ouvindo estas coisas, se encheram de ira. E, levantando-se, expulsaram-no da cidade e o levaram até ao cimo do monte sobre o qual estava edificada, para, de lá, o precipitarem abaixo. Jesus, porém, passando por entre eles, retirou-se. (Lc 4.24-30)
Jesus, comunicou entre outras coisas, que Deus não era apenas o Deus de Israel, mas também, e de igual modo, o Deus dos gentios (ibdem). Na "Grande Comissão" de Lucas, que na realidade é apresentada em forma de um fato e promessa, e não de mandamento, a pregação a todas as nações é também citada:
[...] e lhes disse: Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém. (Lc 24:46-47)
Em Atos dos Apóstolos a missão aos gentios é novamente citada por Lucas, seguida dos episódios que desencadeiam de uma vez por todas a inclusão da mesma na "agenda" missionária:
[...] mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra. (At 1:8)
Ainda Pedro falava estas coisas quando caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. E os fiéis que eram da circuncisão, que vieram com Pedro, admiraram-se, porque também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo; pois os ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus. Então, perguntou Pedro: Porventura, pode alguém recusar a água, para que não sejam batizados estes que, assim como nós, receberam o Espírito Santo? (At 10:44-47)
Alguns deles, porém, que eram de Chipre e de Cirene e que foram até Antioquia, falavam também aos gregos, anunciando-lhes o evangelho do Senhor Jesus. A mão do Senhor estava com eles, e muitos, crendo, se converteram ao Senhor. (Atos 11:20-21)
Mas os judeus, vendo as multidões, tomaram-se de inveja e, blasfemando, contradiziam o que Paulo falava. Então, Paulo e Barnabé, falando ousadamente, disseram: Cumpria que a vós outros, em primeiro lugar, fosse pregada a palavra de Deus; mas, posto que a rejeitais e a vós mesmos vos julgais indignos da vida eterna, eis aí que nos volvemos para os gentios. (At 13:45-46)
À noite, sobreveio a Paulo uma visão na qual um varão macedônio estava em pé e lhe rogava, dizendo: Passa à Macedônia e ajuda-nos. Assim que teve a visão, imediatamente, procuramos partir para aquele destino, concluindo que Deus nos havia chamado para lhes anunciar o evangelho. (At 16:9-10)
Durou isto por espaço de dois anos, dando ensejo a que ouvissem a palavra do Senhor,todos os habitantes da Ásia tanto judeus como gregos. (At 19:10)
[...] jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa, testificando tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus [Cristo]. (At 20:20-21)
Nas epístolas, a mesma ênfase é dada, como por exemplo nos textos abaixo:
Porque não quero, irmãos, que ignoreis que, muitas vezes, me propus ir ter convosco (no que tenho sido, até agora, impedido), para conseguir igualmente entre vós algum fruto, como também entre os outros gentios. (Rm 1:13)
Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos. [...] Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. (Gl 3:8, 28)
No livro de Apocalipse (5:8-10), os gentios são contemplados no cântico dos quatro seres viventes e dos vinte e quatro anciãos:
e, quando tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um deles uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos, e entoavam novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra.
Estão presentes entre aqueles que vieram da grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do cordeiro:
Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos; [...] Respondi-lhe: meu Senhor, tu o sabes. Ele, então, me disse: São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro, razão por que se acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu santuário; e aquele que se assenta no trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo. Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima. (Ap 7:9, 14-17)
Diante de tudo isso, como bem escreveu Pate (ibdem, p. 7), o amor de Deus não se limita a uma raça, nação ou grupo cultural. Ele ama todos os povos. O amor de Deus ultrapassa todas as fronteiras, quer sejam geopolíticas, culturais, raciais ou linguísticas.
É fundamentada neste amor de Deus, manifesto a todos os povos, que a igreja inteira deve levar o evangelho inteiro para o mundo inteiro (BOSCH, ibdem, p. 28).
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Pregador da Palavra de Deus, Redator da Revista Visão Missionária e Professor da EBD
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1º Trimestre de 2011 - Lição 10
1º Trimestre de 2011 - Lição 09
A Conversão de Paulo
Comentário sobre Atos 9:1-25
1 – Saulo em Jerusalém, antes da conversão (9:1-2).
Saulo, porém, respirando ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote, e pediu-lhe cartas para Damasco, para as sinagogas, a fim de que, caso encontrasse alguns do Caminho, quer homens quer mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém. (Atos 9:1-2)
Se perguntarmos o que causou a conversão de Saulo, só existe uma resposta possível. O que sobressai na narrativa é a graça soberana de Deus através de Jesus Cristo. Saulo não se “decide por Cristo”, como poderíamos dizer. Pelo contrário, ele estava perseguindo Cristo. É melhor dizer que Cristo se decidiu por ele e interveio em sua vida. A evidência disso é inquestionável.
Consideremos primeiro o estado mental de Saulo na época. Lucas já o mencionou três vezes, sempre como feroz adversário de Cristo e sua igreja. Ele nos conta que, no martírio de Estevão, “as testemunhas deixaram suas vestes ao pés de um jovem chamado Saulo” (7:58), que “Saulo consentia na sua morte” (8:1), e que, em seguida, “Saulo assolava a igreja” (8:3), procurando cristãos casa por casa, arrastando homens e mulheres para a prisão. Agora, Lucas resume a história dizendo que ele estava respirando ainda ameaças de morte contra os discípulos do Senhor (9:1). Ele não tinha mudado desde a morte de Estevão; ele ainda estava na mesma condição mental de ódio e hostilidade.
E pior do que isso. É evidente que Saulo esperava segurar os seguidores de Jesus em Jerusalém, a fim de destruí-los ali (8:3). Mas alguns tinham escapado da sua rede, fugindo para Damasco, onde várias sinagogas serviam uma grande colônia judaica. Determinado a perseguir esses discípulos fugitivos em cidades estranhas, Saulo elaborou uma trama para liquidá-los e persuadiu o sumo sacerdote a sancioná-la (9:1b-2). Então, esse inquisidor auto-nomeado deixou Jerusalém armado com a autorização escrita às sinagogas de Damasco para que, caso achasse alguns que eram do Caminho (uma descrição muito interessante dos seguidores de Jesus, que vamos considerar mais parte), assim homens como mulheres os levassem presos para Jerusalém (v. 2). Em linguagem moderna, o sumo-sacerdote lhe concedeu uma ordem de extradição.
Alguns dos termos que Lucas usa para descrever Saulo antes da sua conversão parecem ser deliberadamente escolhido para retratá-lo como “um animal selvagem e feroz”. O verbo lymainomai, cuja única ocorrência no Novo Testamento se encontra em 8:3, em referência à “destruição” que Saulo causou a Igreja, é empregada no Salmo 8:13 (LXX), em relação a animais selvagens destruindo uma vinha; o seu sentido específico é “destruição de um corpo por um animal selvagem”. Um pouco mais tarde, os cristãos de Damasco o descreveram como aquele que tinha causado um “extermínio” em Jerusalém (v. 21), onde o verbo empregado é portheo (como em Gálatas 1:13.23), que C.S.C. Williams, traduz “espancar”. Continuando a mesma imagem, J.A. Alexander sugere que a menção de Saulo “respirando ameaças e morte” (v. 1) era uma “alusão ao arfar e ao bufar dos animais selvagens”, enquanto que mais tarde, de acordo com Calvino a graça de Deus é vista “não apenas em um lobo tão cruel sendo transformado numa ovelha, mas também em ele assumir o caráter de um pastor”.
Esse, portanto, era o homem (mais animal selvagem do que ser humano) que em poucos dias seria um cristão convertido e batizado. Mas ele não estava propenso a considerar as reivindicações de Cristo. Seu coração estava cheio de ódio e sua mente estava envenenada por preconceitos. Em suas próprias palavras, estava “demasiadamente enfurecido” (26:11). Se o tivéssemos encontrado quando saia de Jerusalém e (podendo prever o futuro) lhe disséssemos que antes de chegar a Damasco ele se tornaria cristão, ele teria considerado ridícula a idéia. Mas foi o que aconteceu. Ele tinha deixado a graça soberana de Deus fora de seus cálculos.
2 – Saulo e Jesus: sua conversão na estrada de Damasco (9:3-9).
Mas, seguindo ele viagem e aproximando-se de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu; e, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Ele perguntou: Quem és tu, Senhor? Respondeu o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues; mas levanta-te e entra na cidade, e lá te será dito o que te cumpre fazer. Os homens que viajavam com ele quedaram-se emudecidos, ouvindo, na verdade, a voz, mas não vendo ninguém. Saulo levantou-se da terra e, abrindo os olhos, não via coisa alguma; e, guiando-o pela mão, conduziram-no a Damasco. E esteve três dias sem ver, e não comeu nem bebeu. (Atos 9:3-9)
A segunda evidência de que a conversão se devia apenas a graça de Deus é a narrativa de Lucas sobre o que aconteceu. Vamos coletar dados de todos os três relatos em Atos, num capítulo posterior vamos compará-los e contrastá-los. Saulo e sua escolta (não sabemos quem eram) tinham quase completado sua viagem de cerca de 240 quilômetros, que deve ter levado por volta de uma semana. Quando se aproximaram de Damasco, um lindo oásis cercado pelo deserto, perto do meio-dia, de repente, uma luz do céu brilhou ao seu redor (v. 3), mais clara do que o sol (26:13). Foi uma experiência tão gloriosa que ele ficou cegado (v. 8,9) e caiu por terra (v. 4), “prostrado aos pés de seu conquistador”. Então uma voz dirigiu-se a ele (em aramaico, 26:14), de forma pessoal e direta: Saulo, Saulo [Lucas mantêm o original aramaico, Saoul ], porque me persegues? E, respondendo a pergunta de Saulo sobre a identidade daquele que falava, a voz continuou: Eu sou Jesus, a quem tu persegues (v. 5). Imediatamente, Saulo deve ter entendido, pela forma extraordinário como Jesus se identificou com os seus seguidores, que persegui-los era perseguir a Ele, que Jesus estava vivo e que suas afirmações eram verdadeiras. Assim obedeceu prontamente a ordem de levantar-se e entrar na cidade (v. 6), onde lhe seriam dadas outras instruções. Enquanto isso, os seus companheiros de viagem, pararam emudecidos, ouvindo a voz, não vendo, contudo, ninguém (v. 7). Eles também não entenderam as palavras do orador invisível (22:9). Mesmo assim, guiando-o pela mão, levaram-no para Damasco (v. 8). Ele, que esperava entrar em Damasco na plenitude do seu orgulho e bravura, como um auto-confiante adversário de Cristo, estava sendo guiado por outros, humilhado e cego, capturado pelo Cristo a quem se opunha. Não podia haver dúvidas sobre o que acontecera. O Senhor ressurreto aparecera a Saulo. Não era um sonho ou uma visão subjetiva; era uma aparição objetiva de Jesus Cristo ressurreto exaltado. A luz que viu era a glória de Cristo, e a voz que ouviu era a voz de Cristo. Cristo interrompeu a sua impetuosa carreira de perseguidor e fez com que se voltasse em direção contrária.
A terceira evidência que atribui a conversão à graça de Deus são as próprias referências de Paulo. Ele nunca mencionou sua conversão sem deixar isso bem claro. “Aprouve” a Deus, escreveu, “revelar Seu Filho a mim”. Deus tomou a iniciativa de acordo com a Sua própria vontade. E Paulo ilustrou essa verdade com pelo menos três imagens dramáticas. Em primeiro lugar, Cristo o conquistou, o verbo katalambano talvez até seja uma sugestão de que Cristo o “capturou” antes que tivesse a oportunidade de capturar algum cristão em Damasco. Em segundo lugar, ele comparou sua iluminação interior com a ordem criadora “Haja luz” ou “De trevas resplandecerá a luz”. E em terceiro lugar, ele escreveu que a misericórdia de Deus “transbordou” sobre ele, como um rio em época de cheia, inundando seu coração com fé e amor. Assim, a graça de Deus o capturou, iluminou seu coração e o inundou como uma enchente. Essa variedade de imagens lembra-se outra série de metáforas usada por C.S. Lewis nos últimos capítulos de sua autobiografia. Sentindo que Deus o buscava implacavelmente, ele O compara com o “grande Pescador” fisgando seu peixe, a um gato caçando um rato, a um bando de cães de caça encurralando uma raposa e, finalmente, a um enxadrista divino colocando-o na posição mais desvantajosa até que, enfim, reconhece o “xeque-mate”.
Entretanto, creditar a conversão de Saulo a iniciativa de Deus pode, facilmente, causar mal entendidos, e precisa receber dois esclarecimentos: a graça soberana que conquistou Saulo não foi repentina (no sentido de que não teria havido preparação anterior) nem compulsiva (no sentido de que ele não tinha opção).
Em primeiro lugar, a conversão de Saulo não foi, de maneira alguma, uma “conversão repentina”, como se diz muitas vezes. É certo que a intervenção final de Deus foi repentina: “Subitamente uma luz do céu brilhou ao seu redor “ (v. 3), e uma voz se dirigiu a ele. Mas essa não foi a primeira vez que Jesus Cristo falou com ele. De acordo com a própria narrativa de Paulo, Jesus lhe disse: “Dura coisa é recalcitrares contra os aguilhões” (26:14). Com esse provérbio (que parece ter sido bastante popular na literatura grega e latina) Jesus comparou Saulo a um touro jovem, forte e obstinado, e ele mesmo a um fazendeiro que usa aguilhões para domá-lo. A implicação disso é que Jesus estava perseguindo Saulo, usando esporas e chicotes, e era “duro” (doloroso, até mesmo fútil) resistir. Quais eram esses aguilhões, contra os quais Saulo estava lutando? Não sabemos exatamente, mas o Novo Testamento dá uma série de indicações.
Com certeza, um aguilhão eram as suas dúvidas. Seu consciente rejeitou Jesus como impostor, aquele que fora rejeitado por seu próprio povo e que tinha morrido sob a maldição de Deus. Mas, no inconsciente, ele não conseguia deixar de pensar em Jesus. Será que já o tinha visto ou se havia encontrado com ele? “Existem aqueles que categoricamente....negam essa possibilidade”, escreve Donald Coggan, “mas eu não posso pertencer a este grupo”. Por que não? Porque é “mais provável que eles fossem contemporâneos, com idades muitos próximas um do outro”. Portanto, é provável que ambos tenham visitado Jerusalém e o templo ao mesmo tempo, nesse caso sendo “não só possível, como bem provável, que o jovem professor da Galiléia e o jovem fariseu de Tarso tenham olhado nos olhos um do outro, e que Saulo tenha ouvido os ensinos de Jesus.
Outro aguilhão deve ter sido Estevão. Não era de ouvir falar, pois Saulo estava presente no seu julgamento e execução. Ele havia visto com os seus próprios olhos o rosto resplandecente de Estevão, como o de um anjo (6:15), e sua corajosa não-resistência enquanto era apedrejado até a morte (7:58-60). Ele havia ouvido, com seus próprios ouvidos, a defesa eloqüente de Estevão diante do Sinédrio, talvez a sua sabedoria na sinagoga (6:9-10), sua oração pedindo o perdão para os seus executores, e sua afirmação extraordinária de Jesus como Filho do Homem, em pé a destra de Deus (7:56). É desse modo “Estrevão e não Gamaliel foi o verdadeiro mestre de S. Paulo”. Pois Saulo não podia esquecer o testemunho de Estevão. Havia algo inexplicável naqueles cristãos – algo sobrenatural, algo que falava do poder divino de Jesus. O próprio fanatismo da perseguição de Saulo traía a sua crescente perturbação interior, “pois o fanatismo só é encontrado”, escreve Jung, “em indivíduos que estão compensando dúvidas secretas”.
Mas os aguilhões de Jesus eram morais e intelectuais. A má consciência de Saulo provavelmente lhe causou mais confusão interna do que as suas dúvidas, pois apesar de poder afirmar ter sido “impecável” em retidão interior, ele sabia que seus pensamentos, suas motivações e seus desejos não eram puros aos olhos de Deus. O décimo mandamento, contra a cobiça, condenava-o especialmente. Aos outros mandamentos, ele podia obedecer em palavra ou ação, mas a cobiça não era não era palavra nem ação, mas uma atitude de coração que não podia controlar. Assim, ele não tinha poder nem paz. Mas ele não admitiria isso. Ele estava brigando violentamente contra os aguilhões de Jesus e isso o machucava. Sua conversão na estrada de Damasco era, portanto, o clímax repentino de um longo processo em que o “Caçador dos céus” tinha estado em seu encalço. Curvou-se a dura cerviz auto-suficiente. O touro estava domado.
Se a graça de Deus não era repentina, ela também não era compulsiva. Ou seja, o Cristo que lhe apareceu e falou com ele não o esmagou. Ele o humilhou, fazendo-o cair ao chão, mas Ele não violentou sua personalidade. Ele não o reduziu a um robô nem o forçou a realizar algumas coisas por meio de um tipo de transe hipnótico. Pelo contrário, Jesus lhe fez uma pergunta penetrante: “Por que me persegues?”, apelando, assim, à sua razão e consciência, a fim de conscientizá-lo da tolice do mal que estava fazendo. Jesus então lhe ordenou que levantasse e que fosse à cidade, onde receberia instruções. E Saulo não estava dominado pela visão e pela voz a ponto de perder a fala, ficando incapaz de responder. Não, ele respondeu a pergunta de Cristo com duas perguntas: primeira, “Quem és tu, Senhor?” (v. 5) e segunda, “Que devo fazer, Senhor?” (22:10). Sua resposta foi racional, consciente e livre. A palavra Kyrios (“Senhor”) pode ter significado não mais do que “senhor”. Mas, uma vez que estava consciente de que estava falando com Jesus, e que Ele tinha ressurgido dentre os mortos, a palavra já deveria ter começado a adquirir o sentido teológico que teria mais tarde nas cartas de Paulo.
Resumindo, a causa da conversão de Saulo foi graça, a graça soberana de Deus. Mas a graça soberana é uma graça gradual e suave. Gradualmente, e sem violência. Jesus picou a mente e a consciência de Saulo com os Seus aguilhões. Então Ele se revelou através da luz e da voz, não para esmagá-lo, mas de um modo que Saulo pudesse responder livremente. A graça divina não atropela a personalidade humana. Pelo contrário, faz com que os seres humanos sejam verdadeiramente humanos. É o pecado que encarcera; a graça liberta. Portanto, a graça de Deus nos liberta da escravidão do nosso orgulho, preconceito e egocentrismo, fazendo-nos capaz de nos arrepender e crer. Não podemos fazer outra coisa, senão engrandecer a graça de Deus que teve misericórdia de um fanático enfurecido como Saulo de Tarso, e de criaturas tão orgulhosas, rebeldes e obstinadas como nós.
C.S. Lewis, cuja consciência de ser perseguidor por Deus já foi mencionada, também expressou seu sentimento de liberdade em sua resposta a Deus. Conscientizei-me de que estava em apuros, segurando ou barrando alguma coisa. Ou, se você quiser, que eu estava vestindo alguma roupa rígida, como um espartilho, ou talvez uma armadura, como se fosse uma lagosta. Eu senti, naquele exato momento, que eu tinha ganhado uma liberdade de escolha. Eu poderia abrir a porta ou mantê-la fechada; poderia tirar aquela armadura ou permanecer com ela. Nenhuma escolha era obrigatória; nenhuma ameaça ou promessa estava ligada a ela; apesar disso, sabia que abrir a porta ou sair da armadura significaria o incalculável. A escolha parecia solene mas ela também parecia estranhamente não-emocional. Eu não era movido por desejos nem medos. Em certo sentido, não era movido por coisa alguma. Decidi abrir, tirar, soltar as rédeas. Disse “eu escolho”, mas ao mesmo tempo que não parecia ser, mesmo, possível fazer o contrário. Por outro lado, eu não via nenhum estímulo. Você poderia argumentar que não era um agente livre, mas estou mais inclinado a pensar que foi um dos atos mais livres que realizei. Necessidade não precisa ser o contrário de liberdade, e talvez o homem seja mais livre quando, em vez de procurar motivos, ele pode dizer, “eu sou o que faço”.
3 – Paulo e Ananias: Sua recepção na igreja de Damasco (9:10-25).
Ora, havia em Damasco certo discípulo chamado Ananias; e disse-lhe o Senhor em visão: Ananias! Respondeu ele: Eis-me aqui, Senhor. Ordenou-lhe o Senhor: Levanta-te, vai à rua chamada Direita e procura em casa de Judas um homem de Tarso chamado Saulo; pois eis que ele está orando; e viu um homem chamado Ananias entrar e impor-lhe as mãos, para que recuperasse a vista. Respondeu Ananias: Senhor, a muitos ouvi acerca desse homem, quantos males tem feito aos teus santos em Jerusalém; e aqui tem poder dos principais sacerdotes para prender a todos os que invocam o teu nome. Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome perante os gentios, e os reis, e os filhos de Israel; pois eu lhe mostrarei quanto lhe cumpre padecer pelo meu nome. Partiu Ananias e entrou na casa e, impondo-lhe as mãos, disse: Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, enviou-me para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo. Logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista: então, levantando-se, foi batizado. E, tendo tomado alimento, ficou fortalecido. Depois demorou- se alguns dias com os disc!pulos que estavam em Damasco; e logo nas sinagogas pregava a Jesus, que este era o filho de Deus. Todos os seus ouvintes pasmavam e diziam: Não é este o que em Jerusalém perseguia os que invocavam esse nome, e para isso veio aqui, para os levar presos aos principais sacerdotes? Saulo, porém, se fortalecia cada vez mais e confundia os judeus que habitavam em Damasco, provando que Jesus era o Cristo. Decorridos muitos dias, os judeus deliberaram entre si matá- lo. Mas as suas ciladas vieram ao conhecimento de Saulo. E como eles guardavam as portas de dia e de noite para tirar-lhe a vida, os discípulos, tomando-o de noite, desceram-no pelo muro, dentro de um cesto. (Atos 9:10-25)
Segundo a história com Lucas a conta, passamos às conseqüências da conversão de Saulo. É maravilho ver a transformação que começou a aparecer imediatamente em suas atitudes, em seu caráter e, de modo especial, em seu relacionamento com Deus, com a igreja cristã e com o mundo incrédulo.
Em primeiro lugar, Saulo tinha uma nova referência para com Deus. Ananias, instruído a ir e ministrar ao novo convertido, foi informado de que ele estava orando (v. 11). Três dias haviam passado desde o seu encontro com o Senhor ressurreto, durante os quais nada comeu nem bebeu (v. 9). Supõe-se, então, que passou aqueles dias em jejum e oração, ou seja, abstendo-se de alimentos a fim de dedicar-se à oração. Não que ele não tivesse jejuado ou orado antes. Como o fariseu da parábola de Jesus, ele deve ter subido ao tempo para orar e, como ele, pode ter clamado “jejuo duas vezes por semana”. Mas agora, através de Jesus e de Sua cruz, Saulo fôra reconciliado com Deus e, conseqüentemente, gozava de um novo acesso direto ao Pai, desde que o Espírito havia testificado com o seu espírito de que ele era filho de Deus. Qual era o conteúdo de suas orações? Podemos supor que ele orou pelo perdão de todos os seus pecados, especialmente o de ser auto-suficiente e o de perseguir cruelmente Jesus e seus seguidores; pediu sabedoria para discernir o que Deus queria que ele fizesse agora; e poder para exercer o ministério que recebesse, qualquer que fosse. Sem dúvida alguma, suas orações também incluíam adoração, ao derramar sua alma em louvor, por Deus ter sido misericordioso com ele. A mesma boca, que havia respirado ameaças de morte contra os discípulos do Senhor (v. 1), agora respirava louvores e preces a Deus. “O rugido do leão foi transformado no balido de um cordeiro”.
Ainda hoje, o primeiro fruto da conversão é sempre uma nova consciência da paternidade de Deus. Quando o Espírito nos capacita a clamar “Aba, Pai”, juntamente com a gratidão pela sua misericórdia e o desejo de conhecê-lo, agradá-lo e servi-lo melhor. Isso é piedade, e nenhuma conversão é genuína se não resultar em uma vida que agrade a Deus.
Em segundo lugar Saulo passou a ter um novo relacionamento com a igreja, a qual foi apresentado por Ananias. Não nos surpreende que William Barclay chame Ananias de “um dos heróis esquecidos da igreja cristã”. À princípio, porém, quando ordenado ir até Saulo, Ananias vacilou. Ele estava muito relutante em fazer o trabalho de “follow-up” (para usar um jargão atual), e sua hesitação era compreensível. Ir até Saulo seria o mesmo que se entrega à polícia. Seria suicídio. Pois já tinha ouvido falar a respeito dele e dos males que havia feito ao povo de Jesus em Jerusalém (v. 13). Ananias também sabia que Saulo viera a Damasco com autorização dos principais sacerdotes para prender todos os crentes (v. 14). Mas Jesus repetiu Sua ordem, dizendo “Vai!”; e acrescentou que Saulo era um instrumento escolhido para levar o Seu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel (v.15) – um ministério que lhe traria muito sofrimento por amor a esse mesmo nome (v. 16).
Assim, Ananias foi até a rua Direita (v. 11), que ainda é a principal rua que vai de leste a oeste de Damasco, e entrou na casa de Judas, no quarto em que estava Saulo. Lá ele lhe impôs as mãos (v. 17), talvez para identificar-se com Saulo enquanto orava pela cura de sua vista e pela plenitude do Espírito Santo para dar-lhe poder para exercer seu ministério. E mais, desconfio que essa imposição de mãos foi um gesto de amor por um homem cego, que não podia ver o sorriso do rosto de Ananias, mas podia sentir a pressão de suas mãos. Ao mesmo tempo, Ananias chamou-o de “Saulo, irmão”, ou “Saulo, meu irmão”. Sempre sou tocado por essas palavras. Podem muito bem ter sido as primeiras palavras que Saulo ouviu de lábios cristãos após a sua conversão, e eram palavras de boas-vindas fraternais. Devem ter sido música para os seus ouvidos. O quê? Será que o arquiinimigo estava sendo recebido como irmão? Será que o terrível fanático estava sendo recebido como membro da família? É isso mesmo. Ananias explicou como o mesmo Jesus que lhe apareceu na estrada, o tinha enviado a ele para que pudesse recuperar sua vista e ficar cheio do Espírito Santo (v. 17). Imediatamente lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e tornou a ver (aqui o Doutor Lucas emprega uma terminologia médica). Depois disso, ele foi batizado (v. 18), provavelmente por Ananias, que assim o recebeu de forma visível e pública na comunidade de Jesus. Só depois, Saulo se alimentou, então, após três dias de jejum, sentiu-se fortalecido (v. 19a). Será que Ananias lhe preparou e serviu uma refeição, da mesma forma como batizou? Nesse caso, ele reconheceu que o recém-convertido tinha necessidades físicas, além das espirituais.
A próxima coisa que ficamos sabendo é que Saulo permaneceu em Damasco alguns dias com os discípulos (v. 19b). Ele sabia que agora pertencia àquele grupo que havia tentado destruir anteriormente, e mostrou isso claramente, ao pregar nas sinagogas a Jesus, afirmando que era o Filho de Deus (v. 20). É incrível o fato de ele ter sido aceito. Tanto que o povo o ouviu e ficou atônito, perguntando se ele não era o que exterminava em Jerusalém aos que invocavam o nome de Jesus e que viera a Damasco com o fim de os levar amarrados aos principais sacerdotes (v. 21). Lucas não nos conta como essas perguntas cheias de preocupação foram respondidas, mas talvez Ananias tenha ajudado a tranquilizá-los. Enquanto isso, Saulo mais e mais se fortalecia como testemunha e apologista, a ponto de confundir os judeus...em Damasco demonstrando que Jesus era o Cristo (v. 22).
Entretanto, Saulo não ficou entre os cristãos de Damasco. Lucas descreve como ele deixou a cidade decorridos muitos dias (v. 23a). Essa referência ao tempo é intencionalmente vaga, mas sabemos por Gálatas 1:17-18 que “esses últimos dias” somaram três anos e que durante esse período Paulo esteve na Arábia. Ele não precisou viajar muito, pois, naquela época, o extremo noroeste da Arábia ficava perto de Damasco. Mas porque ele foi para a Arábia? Alguns acham que ele foi pregar, mas outros são convincentes que ele precisava de um tempo para meditar, e que Jesus teria revelado a ele aquelas verdades características da solidariedade judíaco-gentia no corpo de Cristo que ele depois chamaria de “o mistério” dado a conhecer através de “revelação”, “meu evangelho” e “o evangelho...(que) recebi...mediante revelação de Jesus Cristo”. Alguns chegam a conjecturar que aqueles três anos na Arábia foram uma compensação pelos três anos que os outros apóstolos haviam passado com Jesus, mas ele não. Em todo o caso, depois desse período, ele voltou para Damasco; porém, não por muito tempo: pois os judeus deliberaram entre si a tirar-lhe a vida (v. 23b) e dia e noite guardavam...as portas, para o matarem (v. 24). De alguma forma o plano deles chegou ao conhecimento de Saulo, e então seus seguidores “uma interessante indicação que sua liderança já era reconhecida e que tinha atraído seguidores”, colocando-o num cesto, desceram-no pela muralha (v. 25), e ele fugiu para Jerusalém.
Comentário sobre Atos 9:1-25
1 – Saulo em Jerusalém, antes da conversão (9:1-2).
Saulo, porém, respirando ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote, e pediu-lhe cartas para Damasco, para as sinagogas, a fim de que, caso encontrasse alguns do Caminho, quer homens quer mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém. (Atos 9:1-2)
Se perguntarmos o que causou a conversão de Saulo, só existe uma resposta possível. O que sobressai na narrativa é a graça soberana de Deus através de Jesus Cristo. Saulo não se “decide por Cristo”, como poderíamos dizer. Pelo contrário, ele estava perseguindo Cristo. É melhor dizer que Cristo se decidiu por ele e interveio em sua vida. A evidência disso é inquestionável.
Consideremos primeiro o estado mental de Saulo na época. Lucas já o mencionou três vezes, sempre como feroz adversário de Cristo e sua igreja. Ele nos conta que, no martírio de Estevão, “as testemunhas deixaram suas vestes ao pés de um jovem chamado Saulo” (7:58), que “Saulo consentia na sua morte” (8:1), e que, em seguida, “Saulo assolava a igreja” (8:3), procurando cristãos casa por casa, arrastando homens e mulheres para a prisão. Agora, Lucas resume a história dizendo que ele estava respirando ainda ameaças de morte contra os discípulos do Senhor (9:1). Ele não tinha mudado desde a morte de Estevão; ele ainda estava na mesma condição mental de ódio e hostilidade.
E pior do que isso. É evidente que Saulo esperava segurar os seguidores de Jesus em Jerusalém, a fim de destruí-los ali (8:3). Mas alguns tinham escapado da sua rede, fugindo para Damasco, onde várias sinagogas serviam uma grande colônia judaica. Determinado a perseguir esses discípulos fugitivos em cidades estranhas, Saulo elaborou uma trama para liquidá-los e persuadiu o sumo sacerdote a sancioná-la (9:1b-2). Então, esse inquisidor auto-nomeado deixou Jerusalém armado com a autorização escrita às sinagogas de Damasco para que, caso achasse alguns que eram do Caminho (uma descrição muito interessante dos seguidores de Jesus, que vamos considerar mais parte), assim homens como mulheres os levassem presos para Jerusalém (v. 2). Em linguagem moderna, o sumo-sacerdote lhe concedeu uma ordem de extradição.
Alguns dos termos que Lucas usa para descrever Saulo antes da sua conversão parecem ser deliberadamente escolhido para retratá-lo como “um animal selvagem e feroz”. O verbo lymainomai, cuja única ocorrência no Novo Testamento se encontra em 8:3, em referência à “destruição” que Saulo causou a Igreja, é empregada no Salmo 8:13 (LXX), em relação a animais selvagens destruindo uma vinha; o seu sentido específico é “destruição de um corpo por um animal selvagem”. Um pouco mais tarde, os cristãos de Damasco o descreveram como aquele que tinha causado um “extermínio” em Jerusalém (v. 21), onde o verbo empregado é portheo (como em Gálatas 1:13.23), que C.S.C. Williams, traduz “espancar”. Continuando a mesma imagem, J.A. Alexander sugere que a menção de Saulo “respirando ameaças e morte” (v. 1) era uma “alusão ao arfar e ao bufar dos animais selvagens”, enquanto que mais tarde, de acordo com Calvino a graça de Deus é vista “não apenas em um lobo tão cruel sendo transformado numa ovelha, mas também em ele assumir o caráter de um pastor”.
Esse, portanto, era o homem (mais animal selvagem do que ser humano) que em poucos dias seria um cristão convertido e batizado. Mas ele não estava propenso a considerar as reivindicações de Cristo. Seu coração estava cheio de ódio e sua mente estava envenenada por preconceitos. Em suas próprias palavras, estava “demasiadamente enfurecido” (26:11). Se o tivéssemos encontrado quando saia de Jerusalém e (podendo prever o futuro) lhe disséssemos que antes de chegar a Damasco ele se tornaria cristão, ele teria considerado ridícula a idéia. Mas foi o que aconteceu. Ele tinha deixado a graça soberana de Deus fora de seus cálculos.
2 – Saulo e Jesus: sua conversão na estrada de Damasco (9:3-9).
Mas, seguindo ele viagem e aproximando-se de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu; e, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Ele perguntou: Quem és tu, Senhor? Respondeu o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues; mas levanta-te e entra na cidade, e lá te será dito o que te cumpre fazer. Os homens que viajavam com ele quedaram-se emudecidos, ouvindo, na verdade, a voz, mas não vendo ninguém. Saulo levantou-se da terra e, abrindo os olhos, não via coisa alguma; e, guiando-o pela mão, conduziram-no a Damasco. E esteve três dias sem ver, e não comeu nem bebeu. (Atos 9:3-9)
A segunda evidência de que a conversão se devia apenas a graça de Deus é a narrativa de Lucas sobre o que aconteceu. Vamos coletar dados de todos os três relatos em Atos, num capítulo posterior vamos compará-los e contrastá-los. Saulo e sua escolta (não sabemos quem eram) tinham quase completado sua viagem de cerca de 240 quilômetros, que deve ter levado por volta de uma semana. Quando se aproximaram de Damasco, um lindo oásis cercado pelo deserto, perto do meio-dia, de repente, uma luz do céu brilhou ao seu redor (v. 3), mais clara do que o sol (26:13). Foi uma experiência tão gloriosa que ele ficou cegado (v. 8,9) e caiu por terra (v. 4), “prostrado aos pés de seu conquistador”. Então uma voz dirigiu-se a ele (em aramaico, 26:14), de forma pessoal e direta: Saulo, Saulo [Lucas mantêm o original aramaico, Saoul ], porque me persegues? E, respondendo a pergunta de Saulo sobre a identidade daquele que falava, a voz continuou: Eu sou Jesus, a quem tu persegues (v. 5). Imediatamente, Saulo deve ter entendido, pela forma extraordinário como Jesus se identificou com os seus seguidores, que persegui-los era perseguir a Ele, que Jesus estava vivo e que suas afirmações eram verdadeiras. Assim obedeceu prontamente a ordem de levantar-se e entrar na cidade (v. 6), onde lhe seriam dadas outras instruções. Enquanto isso, os seus companheiros de viagem, pararam emudecidos, ouvindo a voz, não vendo, contudo, ninguém (v. 7). Eles também não entenderam as palavras do orador invisível (22:9). Mesmo assim, guiando-o pela mão, levaram-no para Damasco (v. 8). Ele, que esperava entrar em Damasco na plenitude do seu orgulho e bravura, como um auto-confiante adversário de Cristo, estava sendo guiado por outros, humilhado e cego, capturado pelo Cristo a quem se opunha. Não podia haver dúvidas sobre o que acontecera. O Senhor ressurreto aparecera a Saulo. Não era um sonho ou uma visão subjetiva; era uma aparição objetiva de Jesus Cristo ressurreto exaltado. A luz que viu era a glória de Cristo, e a voz que ouviu era a voz de Cristo. Cristo interrompeu a sua impetuosa carreira de perseguidor e fez com que se voltasse em direção contrária.
A terceira evidência que atribui a conversão à graça de Deus são as próprias referências de Paulo. Ele nunca mencionou sua conversão sem deixar isso bem claro. “Aprouve” a Deus, escreveu, “revelar Seu Filho a mim”. Deus tomou a iniciativa de acordo com a Sua própria vontade. E Paulo ilustrou essa verdade com pelo menos três imagens dramáticas. Em primeiro lugar, Cristo o conquistou, o verbo katalambano talvez até seja uma sugestão de que Cristo o “capturou” antes que tivesse a oportunidade de capturar algum cristão em Damasco. Em segundo lugar, ele comparou sua iluminação interior com a ordem criadora “Haja luz” ou “De trevas resplandecerá a luz”. E em terceiro lugar, ele escreveu que a misericórdia de Deus “transbordou” sobre ele, como um rio em época de cheia, inundando seu coração com fé e amor. Assim, a graça de Deus o capturou, iluminou seu coração e o inundou como uma enchente. Essa variedade de imagens lembra-se outra série de metáforas usada por C.S. Lewis nos últimos capítulos de sua autobiografia. Sentindo que Deus o buscava implacavelmente, ele O compara com o “grande Pescador” fisgando seu peixe, a um gato caçando um rato, a um bando de cães de caça encurralando uma raposa e, finalmente, a um enxadrista divino colocando-o na posição mais desvantajosa até que, enfim, reconhece o “xeque-mate”.
Entretanto, creditar a conversão de Saulo a iniciativa de Deus pode, facilmente, causar mal entendidos, e precisa receber dois esclarecimentos: a graça soberana que conquistou Saulo não foi repentina (no sentido de que não teria havido preparação anterior) nem compulsiva (no sentido de que ele não tinha opção).
Em primeiro lugar, a conversão de Saulo não foi, de maneira alguma, uma “conversão repentina”, como se diz muitas vezes. É certo que a intervenção final de Deus foi repentina: “Subitamente uma luz do céu brilhou ao seu redor “ (v. 3), e uma voz se dirigiu a ele. Mas essa não foi a primeira vez que Jesus Cristo falou com ele. De acordo com a própria narrativa de Paulo, Jesus lhe disse: “Dura coisa é recalcitrares contra os aguilhões” (26:14). Com esse provérbio (que parece ter sido bastante popular na literatura grega e latina) Jesus comparou Saulo a um touro jovem, forte e obstinado, e ele mesmo a um fazendeiro que usa aguilhões para domá-lo. A implicação disso é que Jesus estava perseguindo Saulo, usando esporas e chicotes, e era “duro” (doloroso, até mesmo fútil) resistir. Quais eram esses aguilhões, contra os quais Saulo estava lutando? Não sabemos exatamente, mas o Novo Testamento dá uma série de indicações.
Com certeza, um aguilhão eram as suas dúvidas. Seu consciente rejeitou Jesus como impostor, aquele que fora rejeitado por seu próprio povo e que tinha morrido sob a maldição de Deus. Mas, no inconsciente, ele não conseguia deixar de pensar em Jesus. Será que já o tinha visto ou se havia encontrado com ele? “Existem aqueles que categoricamente....negam essa possibilidade”, escreve Donald Coggan, “mas eu não posso pertencer a este grupo”. Por que não? Porque é “mais provável que eles fossem contemporâneos, com idades muitos próximas um do outro”. Portanto, é provável que ambos tenham visitado Jerusalém e o templo ao mesmo tempo, nesse caso sendo “não só possível, como bem provável, que o jovem professor da Galiléia e o jovem fariseu de Tarso tenham olhado nos olhos um do outro, e que Saulo tenha ouvido os ensinos de Jesus.
Outro aguilhão deve ter sido Estevão. Não era de ouvir falar, pois Saulo estava presente no seu julgamento e execução. Ele havia visto com os seus próprios olhos o rosto resplandecente de Estevão, como o de um anjo (6:15), e sua corajosa não-resistência enquanto era apedrejado até a morte (7:58-60). Ele havia ouvido, com seus próprios ouvidos, a defesa eloqüente de Estevão diante do Sinédrio, talvez a sua sabedoria na sinagoga (6:9-10), sua oração pedindo o perdão para os seus executores, e sua afirmação extraordinária de Jesus como Filho do Homem, em pé a destra de Deus (7:56). É desse modo “Estrevão e não Gamaliel foi o verdadeiro mestre de S. Paulo”. Pois Saulo não podia esquecer o testemunho de Estevão. Havia algo inexplicável naqueles cristãos – algo sobrenatural, algo que falava do poder divino de Jesus. O próprio fanatismo da perseguição de Saulo traía a sua crescente perturbação interior, “pois o fanatismo só é encontrado”, escreve Jung, “em indivíduos que estão compensando dúvidas secretas”.
Mas os aguilhões de Jesus eram morais e intelectuais. A má consciência de Saulo provavelmente lhe causou mais confusão interna do que as suas dúvidas, pois apesar de poder afirmar ter sido “impecável” em retidão interior, ele sabia que seus pensamentos, suas motivações e seus desejos não eram puros aos olhos de Deus. O décimo mandamento, contra a cobiça, condenava-o especialmente. Aos outros mandamentos, ele podia obedecer em palavra ou ação, mas a cobiça não era não era palavra nem ação, mas uma atitude de coração que não podia controlar. Assim, ele não tinha poder nem paz. Mas ele não admitiria isso. Ele estava brigando violentamente contra os aguilhões de Jesus e isso o machucava. Sua conversão na estrada de Damasco era, portanto, o clímax repentino de um longo processo em que o “Caçador dos céus” tinha estado em seu encalço. Curvou-se a dura cerviz auto-suficiente. O touro estava domado.
Se a graça de Deus não era repentina, ela também não era compulsiva. Ou seja, o Cristo que lhe apareceu e falou com ele não o esmagou. Ele o humilhou, fazendo-o cair ao chão, mas Ele não violentou sua personalidade. Ele não o reduziu a um robô nem o forçou a realizar algumas coisas por meio de um tipo de transe hipnótico. Pelo contrário, Jesus lhe fez uma pergunta penetrante: “Por que me persegues?”, apelando, assim, à sua razão e consciência, a fim de conscientizá-lo da tolice do mal que estava fazendo. Jesus então lhe ordenou que levantasse e que fosse à cidade, onde receberia instruções. E Saulo não estava dominado pela visão e pela voz a ponto de perder a fala, ficando incapaz de responder. Não, ele respondeu a pergunta de Cristo com duas perguntas: primeira, “Quem és tu, Senhor?” (v. 5) e segunda, “Que devo fazer, Senhor?” (22:10). Sua resposta foi racional, consciente e livre. A palavra Kyrios (“Senhor”) pode ter significado não mais do que “senhor”. Mas, uma vez que estava consciente de que estava falando com Jesus, e que Ele tinha ressurgido dentre os mortos, a palavra já deveria ter começado a adquirir o sentido teológico que teria mais tarde nas cartas de Paulo.
Resumindo, a causa da conversão de Saulo foi graça, a graça soberana de Deus. Mas a graça soberana é uma graça gradual e suave. Gradualmente, e sem violência. Jesus picou a mente e a consciência de Saulo com os Seus aguilhões. Então Ele se revelou através da luz e da voz, não para esmagá-lo, mas de um modo que Saulo pudesse responder livremente. A graça divina não atropela a personalidade humana. Pelo contrário, faz com que os seres humanos sejam verdadeiramente humanos. É o pecado que encarcera; a graça liberta. Portanto, a graça de Deus nos liberta da escravidão do nosso orgulho, preconceito e egocentrismo, fazendo-nos capaz de nos arrepender e crer. Não podemos fazer outra coisa, senão engrandecer a graça de Deus que teve misericórdia de um fanático enfurecido como Saulo de Tarso, e de criaturas tão orgulhosas, rebeldes e obstinadas como nós.
C.S. Lewis, cuja consciência de ser perseguidor por Deus já foi mencionada, também expressou seu sentimento de liberdade em sua resposta a Deus. Conscientizei-me de que estava em apuros, segurando ou barrando alguma coisa. Ou, se você quiser, que eu estava vestindo alguma roupa rígida, como um espartilho, ou talvez uma armadura, como se fosse uma lagosta. Eu senti, naquele exato momento, que eu tinha ganhado uma liberdade de escolha. Eu poderia abrir a porta ou mantê-la fechada; poderia tirar aquela armadura ou permanecer com ela. Nenhuma escolha era obrigatória; nenhuma ameaça ou promessa estava ligada a ela; apesar disso, sabia que abrir a porta ou sair da armadura significaria o incalculável. A escolha parecia solene mas ela também parecia estranhamente não-emocional. Eu não era movido por desejos nem medos. Em certo sentido, não era movido por coisa alguma. Decidi abrir, tirar, soltar as rédeas. Disse “eu escolho”, mas ao mesmo tempo que não parecia ser, mesmo, possível fazer o contrário. Por outro lado, eu não via nenhum estímulo. Você poderia argumentar que não era um agente livre, mas estou mais inclinado a pensar que foi um dos atos mais livres que realizei. Necessidade não precisa ser o contrário de liberdade, e talvez o homem seja mais livre quando, em vez de procurar motivos, ele pode dizer, “eu sou o que faço”.
3 – Paulo e Ananias: Sua recepção na igreja de Damasco (9:10-25).
Ora, havia em Damasco certo discípulo chamado Ananias; e disse-lhe o Senhor em visão: Ananias! Respondeu ele: Eis-me aqui, Senhor. Ordenou-lhe o Senhor: Levanta-te, vai à rua chamada Direita e procura em casa de Judas um homem de Tarso chamado Saulo; pois eis que ele está orando; e viu um homem chamado Ananias entrar e impor-lhe as mãos, para que recuperasse a vista. Respondeu Ananias: Senhor, a muitos ouvi acerca desse homem, quantos males tem feito aos teus santos em Jerusalém; e aqui tem poder dos principais sacerdotes para prender a todos os que invocam o teu nome. Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome perante os gentios, e os reis, e os filhos de Israel; pois eu lhe mostrarei quanto lhe cumpre padecer pelo meu nome. Partiu Ananias e entrou na casa e, impondo-lhe as mãos, disse: Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, enviou-me para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo. Logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista: então, levantando-se, foi batizado. E, tendo tomado alimento, ficou fortalecido. Depois demorou- se alguns dias com os disc!pulos que estavam em Damasco; e logo nas sinagogas pregava a Jesus, que este era o filho de Deus. Todos os seus ouvintes pasmavam e diziam: Não é este o que em Jerusalém perseguia os que invocavam esse nome, e para isso veio aqui, para os levar presos aos principais sacerdotes? Saulo, porém, se fortalecia cada vez mais e confundia os judeus que habitavam em Damasco, provando que Jesus era o Cristo. Decorridos muitos dias, os judeus deliberaram entre si matá- lo. Mas as suas ciladas vieram ao conhecimento de Saulo. E como eles guardavam as portas de dia e de noite para tirar-lhe a vida, os discípulos, tomando-o de noite, desceram-no pelo muro, dentro de um cesto. (Atos 9:10-25)
Segundo a história com Lucas a conta, passamos às conseqüências da conversão de Saulo. É maravilho ver a transformação que começou a aparecer imediatamente em suas atitudes, em seu caráter e, de modo especial, em seu relacionamento com Deus, com a igreja cristã e com o mundo incrédulo.
Em primeiro lugar, Saulo tinha uma nova referência para com Deus. Ananias, instruído a ir e ministrar ao novo convertido, foi informado de que ele estava orando (v. 11). Três dias haviam passado desde o seu encontro com o Senhor ressurreto, durante os quais nada comeu nem bebeu (v. 9). Supõe-se, então, que passou aqueles dias em jejum e oração, ou seja, abstendo-se de alimentos a fim de dedicar-se à oração. Não que ele não tivesse jejuado ou orado antes. Como o fariseu da parábola de Jesus, ele deve ter subido ao tempo para orar e, como ele, pode ter clamado “jejuo duas vezes por semana”. Mas agora, através de Jesus e de Sua cruz, Saulo fôra reconciliado com Deus e, conseqüentemente, gozava de um novo acesso direto ao Pai, desde que o Espírito havia testificado com o seu espírito de que ele era filho de Deus. Qual era o conteúdo de suas orações? Podemos supor que ele orou pelo perdão de todos os seus pecados, especialmente o de ser auto-suficiente e o de perseguir cruelmente Jesus e seus seguidores; pediu sabedoria para discernir o que Deus queria que ele fizesse agora; e poder para exercer o ministério que recebesse, qualquer que fosse. Sem dúvida alguma, suas orações também incluíam adoração, ao derramar sua alma em louvor, por Deus ter sido misericordioso com ele. A mesma boca, que havia respirado ameaças de morte contra os discípulos do Senhor (v. 1), agora respirava louvores e preces a Deus. “O rugido do leão foi transformado no balido de um cordeiro”.
Ainda hoje, o primeiro fruto da conversão é sempre uma nova consciência da paternidade de Deus. Quando o Espírito nos capacita a clamar “Aba, Pai”, juntamente com a gratidão pela sua misericórdia e o desejo de conhecê-lo, agradá-lo e servi-lo melhor. Isso é piedade, e nenhuma conversão é genuína se não resultar em uma vida que agrade a Deus.
Em segundo lugar Saulo passou a ter um novo relacionamento com a igreja, a qual foi apresentado por Ananias. Não nos surpreende que William Barclay chame Ananias de “um dos heróis esquecidos da igreja cristã”. À princípio, porém, quando ordenado ir até Saulo, Ananias vacilou. Ele estava muito relutante em fazer o trabalho de “follow-up” (para usar um jargão atual), e sua hesitação era compreensível. Ir até Saulo seria o mesmo que se entrega à polícia. Seria suicídio. Pois já tinha ouvido falar a respeito dele e dos males que havia feito ao povo de Jesus em Jerusalém (v. 13). Ananias também sabia que Saulo viera a Damasco com autorização dos principais sacerdotes para prender todos os crentes (v. 14). Mas Jesus repetiu Sua ordem, dizendo “Vai!”; e acrescentou que Saulo era um instrumento escolhido para levar o Seu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel (v.15) – um ministério que lhe traria muito sofrimento por amor a esse mesmo nome (v. 16).
Assim, Ananias foi até a rua Direita (v. 11), que ainda é a principal rua que vai de leste a oeste de Damasco, e entrou na casa de Judas, no quarto em que estava Saulo. Lá ele lhe impôs as mãos (v. 17), talvez para identificar-se com Saulo enquanto orava pela cura de sua vista e pela plenitude do Espírito Santo para dar-lhe poder para exercer seu ministério. E mais, desconfio que essa imposição de mãos foi um gesto de amor por um homem cego, que não podia ver o sorriso do rosto de Ananias, mas podia sentir a pressão de suas mãos. Ao mesmo tempo, Ananias chamou-o de “Saulo, irmão”, ou “Saulo, meu irmão”. Sempre sou tocado por essas palavras. Podem muito bem ter sido as primeiras palavras que Saulo ouviu de lábios cristãos após a sua conversão, e eram palavras de boas-vindas fraternais. Devem ter sido música para os seus ouvidos. O quê? Será que o arquiinimigo estava sendo recebido como irmão? Será que o terrível fanático estava sendo recebido como membro da família? É isso mesmo. Ananias explicou como o mesmo Jesus que lhe apareceu na estrada, o tinha enviado a ele para que pudesse recuperar sua vista e ficar cheio do Espírito Santo (v. 17). Imediatamente lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e tornou a ver (aqui o Doutor Lucas emprega uma terminologia médica). Depois disso, ele foi batizado (v. 18), provavelmente por Ananias, que assim o recebeu de forma visível e pública na comunidade de Jesus. Só depois, Saulo se alimentou, então, após três dias de jejum, sentiu-se fortalecido (v. 19a). Será que Ananias lhe preparou e serviu uma refeição, da mesma forma como batizou? Nesse caso, ele reconheceu que o recém-convertido tinha necessidades físicas, além das espirituais.
A próxima coisa que ficamos sabendo é que Saulo permaneceu em Damasco alguns dias com os discípulos (v. 19b). Ele sabia que agora pertencia àquele grupo que havia tentado destruir anteriormente, e mostrou isso claramente, ao pregar nas sinagogas a Jesus, afirmando que era o Filho de Deus (v. 20). É incrível o fato de ele ter sido aceito. Tanto que o povo o ouviu e ficou atônito, perguntando se ele não era o que exterminava em Jerusalém aos que invocavam o nome de Jesus e que viera a Damasco com o fim de os levar amarrados aos principais sacerdotes (v. 21). Lucas não nos conta como essas perguntas cheias de preocupação foram respondidas, mas talvez Ananias tenha ajudado a tranquilizá-los. Enquanto isso, Saulo mais e mais se fortalecia como testemunha e apologista, a ponto de confundir os judeus...em Damasco demonstrando que Jesus era o Cristo (v. 22).
Entretanto, Saulo não ficou entre os cristãos de Damasco. Lucas descreve como ele deixou a cidade decorridos muitos dias (v. 23a). Essa referência ao tempo é intencionalmente vaga, mas sabemos por Gálatas 1:17-18 que “esses últimos dias” somaram três anos e que durante esse período Paulo esteve na Arábia. Ele não precisou viajar muito, pois, naquela época, o extremo noroeste da Arábia ficava perto de Damasco. Mas porque ele foi para a Arábia? Alguns acham que ele foi pregar, mas outros são convincentes que ele precisava de um tempo para meditar, e que Jesus teria revelado a ele aquelas verdades características da solidariedade judíaco-gentia no corpo de Cristo que ele depois chamaria de “o mistério” dado a conhecer através de “revelação”, “meu evangelho” e “o evangelho...(que) recebi...mediante revelação de Jesus Cristo”. Alguns chegam a conjecturar que aqueles três anos na Arábia foram uma compensação pelos três anos que os outros apóstolos haviam passado com Jesus, mas ele não. Em todo o caso, depois desse período, ele voltou para Damasco; porém, não por muito tempo: pois os judeus deliberaram entre si a tirar-lhe a vida (v. 23b) e dia e noite guardavam...as portas, para o matarem (v. 24). De alguma forma o plano deles chegou ao conhecimento de Saulo, e então seus seguidores “uma interessante indicação que sua liderança já era reconhecida e que tinha atraído seguidores”, colocando-o num cesto, desceram-no pela muralha (v. 25), e ele fugiu para Jerusalém.
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Pregador da Palavra de Deus, Redator da Revista Visão Missionária e Professor da EBD
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1º Trimestre de 2011 - Lição 09
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