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2º Trimestre de 2011 - Lição 07

Os Dons de Poder

Texto Áureo

“E as multidões unanimemente prestavam atenção ao que Filipe dizia, porque ouviam e viam os sinais que ele fazia” (At 8.6).


Verdade Prática

Através da operação de sinais e prodígios, pelo poder do Espírito Santo, o Senhor Jesus confirma a ação evangelizadora e missionária da Igreja no mundo.


Leitura Bíblica em Classe

Atos 8.5-8; 1Corintios 12.4-10


I. Introdução

Os dons espirituais formam a base do crescimento espiritual e capacita o crente para o serviço. Seu exercício é fundamental, tanto na adoração como na edificação da Igreja. Eles podem ser classificados em três grupos: primeiro, dons de revelação: palavra da sabedoria, palavra da ciência e discernimento dos espíritos. Segundo, dons de poder: fé, dons de cura e operação de maravilhas. Terceiro, dons de inspiração: profecia, variedades de línguas e interpretação de línguas. Através dos dons espirituais, o Espírito Santo opera maravilhas no seio da Igreja. Sabemos que a Bíblia não se arroga o título de livro científico mas ela encerra em suas páginas todas as áreas de estudo humano, inclusive a medicina. A diferença entre ambos reside no fato de que a medicina apenas previne e diagnostica, enquanto que as Sagradas Escrituras oferecem a cura eficaz. Hoje, veremos os dons de poder e que através destes dons, a Igreja prossegue na sua missão primordial: evangelizar.

II. Desenvolvimento

I. O DOM DA FÉ

1. Definição.

O dicionário VINE assim define o termo fé: “pistis, primariamente, ‘persuasão firme’, convicção fundamentada no ouvir, sempre é usado no NT acerca da ‘fé em Deus ou em Jesus, ou às coisas espirituais’” [1]. Em Mt 17.20 Jesus fala de uma fé que pode remover montanhas, operar milagres e curars, e realizar grandes coisas para Deus. É uma fé genuína que produz resultados: ‘nada vos será impossível’. É distinta da fé que produz salvação e da fé como fruto do Espírito. Não se trata da fé para salvação, mas de uma fé sobrenatural especial, comunicada pelo Espírito Santo, capacitando o crente a crer em Deus para a realização de coisas extraordinárias e milagrosas. É a fé que remove montanhas (1Co 13.12) e que frequentemente opera conjuntamente com outras manifestações do Espírito Santo, como os dons de cura e de operação de milagres e maravilhas.

2. A distinção entre o dom da fé e a fé natural.

Não confundamos este dom com a fé natural ou mesmo aquela manifestada para a conversão. A palavra de Paulo ao carcereiro de Filipos mostra a fé para a salvação: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa” (At 16.31) A redenção não se obtém pelos méritos, mas unicamente pela fé no Filho de Deus (Ef 2.18). O segredo do Cristianismo não é o ‘ver para crer’ e, sim, o ‘crer para ver’. A fé “é a certeza das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem” (Hb 11.1). A fé natural se constitui num elemento puramente humano. Essa fé é daquele que crê que Deus existe, mas nele não deposita confiança. Qualquer pessoa pode possuí-la, independente de ser cristão ou não. É a fé que o agricultor tem quando semeia o trigo, o arroz, o feijão, com a esperança de que vai nascer. Satanás também acredita que Deus existe e tem poder, (Tg 2.19). O dom da fé é um equipamento sobrenatural, que concede ao crente poder de confiar em Deus nas ocasiões em que só um milagre pode alterar a situação. É um poder extraordinário de confiança no Senhor, capacitando para se valer dos recursos do poder divino. É um alto grau de fé, no poder e na misericórdia, mediante a qual até milagres podem ser operados (Hb 11.32-34). Este dom capacita o crente a confiar quando tudo está aparentemente perdido, sem a mínima esperança de uma solução, atua visando fazer triunfar a vontade de Deus. Aqui, o impossível se torna possível, o abstrato se torna concreto, o invisível se torna visível, e o absurdo se torna uma possibilidade. Para Deus nada é impossível.

3. Nem todos possuem o dom da fé.

A fé como dom é distribuída soberanamente pelo Espírito Santo para o proveito da Igreja onde ela for necessária. Recebemos a permissão, na verdade uma ordem, de "procurar os melhores dons", e isto "com zelo" (1Co. 12.31). É possível que este desejo sério esteja relacionado com "a medida da fé que Deus repartiu a cada um" (Rm 12.3), e a Bíblia nos incentiva a orarmos por um aumento da nossa fé. Mesmo assim, a partilha dos dons não depende da nossa vontade, mas da vontade do próprio Espírito Santo. Portanto, os charismata provêm da vontade graciosa de Deus, e são concedidos por Ele através do Espírito Santo.


II. OS DONS DE CURAR

1. Por que “dons de curar”?

Dos dons de poder, a cura estabelece a continuidade do ministério terreno de Jesus. Ele sarou a muitos e ordenou a seus discípulos: “Curai os enfermos” (Mt 10.8). Em 1Co 12.9 Paulo se refere a ‘dons de curar’. Do grego charismata e iamaton, convergindo para o português ‘dons de curar’. O fato destas palavras estarem no plural não deixa dúvidas de que se trata de ‘dons especiais. A Bíblia de Estudo Plenitude comentando 1Co 12.8-11, afirma: “Os dons de curar são aquelas curas que Deus realiza sobrenaturalmente pelo Espírito. O plural sugere, que como existem muitas doenças e moléstias, o dom está relacionado à cura de muitas desordens” [2]. Já a Bíblia de Estudo Pentecostal traz o seguinte: “O plural indica curas de diferentes enfermidades e sugere que cada ato de cura vem de um dom especial de Deus [3].

2. Os propósitos dos dons de curar.

A fim de que a missão da Igreja não pudesse ser limitada à capacidade de simples iniciativa humana, o Espírito Santo fornece dons especialmente designados e distribuidos. A clara intenção é que a cura sobrenatural dos doentes deve ser um ministério permanente, estabelecido na Igreja ao lado e favorecendo a obra de evangelização do mundo. Isso vale para hoje – eterno – ‘porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento’ (Rm 11.29) [4]. A Igreja é a expressão de Cristo, pois ela é o seu corpo dinâmico na terra (1Co 12.12,27). Quando pregamos a Cristo, demônios são expulsos, oramos e impomos as mãos sobre os enfermos, o fazemos em nome do Filho de Deus. Os dons de curar são especiais para a libertação de vários tipos de enfermidade. Eles atuam em prol da saúde do povo de Deus e da conversão dos que não conhecem a Cristo. Como o dom da fé, os dons de curas não são concedidos a todos os crentes (cf 1Co 12.11,30), todavia, todos nós podemos orar pelos enfermos e havendo fé, eles serão curados.

3. Os dons de curar e a doutrina da salvação.

Aquele que recebe o dom de curar deve ser cônscio de que não pode curar indiscriminadamente quem quer; para que haja a cura é necessário que haja fé por parte do doente e também da permissão de Deus, ou seja, a cura do indivíduo depende do querer de Deus para com ele naquele momento. A Bíblia afira que, por onde os apóstolos passavam, os milagres e as curas aconteciam, e o povo era liberto ao ouvir a mensagem do Evangelho. É necessário saber que as curas divinas convenciam as pessoas do poder salvador de Jesus. Filipe exerceu o poder de cura e libertação (At 8.5-7). Sem dúvida alguma, a pregação do Evangelho, acompanhada por sinais e prodígios, promove a fé e a conversão de muitas almas a Cristo. Negar este fato é negar a própria fé pentecostal. Os dons de curar devem estar presentes na Igreja hoje para promover a fé e a ousadia na pregação do Evangelho e, principalmente, para que ela não caia na rotina e mero formalismo.

III. O DOM DE OPERAÇÃO DE MARAVILHAS

1. O que é a operação de maravilhas?

É algo sobrenatural (2Rs 4.1-7); algo que vai contra todas as leis da natureza (2Rs 4.32-37); algo que vai contra as leis da química e da física (2Rs 6.1-7); algo que está acima da compreensão e raciocínio humano, capaz até mesmo de mudar toda a ordem universal (Js 10.12-13). Existem três termos gregos identificados com o dom de maravilhas: dunamis, que significa poder, sem o qual não haveria milagres; teras, algo estranho que leva o observador a se maravilhar; maravilha, correspondendo ao que é assombroso e admirável, e semeion, que encerra o sentido de sinais. Portanto, sinais e maravilhas estão na mesma magnitude de milagres. Pedro, em seu sermão no dia de Pentecostes, asseverou: “Varões israelitas, escutai estas palavras: a Jesus Nazareno, varão aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis” (At 2.22). O sinal tem o propósito de apelar para o entendimento, a maravilha apela para a imaginação, o poder (dunamis) indica que a sua fonte é sobrenatural [5]. Dom de operação de Maravilhas, portanto, é a capacitação sobrenatural que o Espírito Santo concede a Igreja de Cristo para que esta realize sinais, maravilhas e obras portentosas, incluindo algumas como a ressurreição de mortos (Lc 7.11-17), e intervenção nas forças da natureza (Ex 14.21); incluindo os atos divinos em que se manifesta o reino de Deus contra satanás e os espíritos malignos (Jo 6.2).

2. A atualidade do operação de maravilhas.

Os dons são dados à igreja para a sua própria edificação (1Co 14.12), levando-a a manter e a desenvolver sua unidade no corpo de Cristo (Ef 4.4-6). Podemos ver isso através dos ministérios espirituais, e dons espirituais. O objetivo da Igreja como o corpo de Cristo é executar as ordens da cabeça, o próprio Cristo. (Ef 4.16). Sem exceção, maravilhas acompanharam o ministério de pregação dos líderes da Igreja primitiva. Pedro, em seu sermão registrado em At 2, relembrou às pessoas de que a credibilidade de Jesus baseava-se em seu ministério de maravilhas. Essa mesma credibilidade acompanhou aqueles escolhidos para liderança, como Estêvão, Filipe, Barnabé, Silas e Paulo, bem como os apóstolos originais. Este permanece na presente era disponível à Igreja, é um dom para todos os crentes em todas as gerações. Em At 2.39, ‘todos os que estão longe’ incluem os crentes distantes, quer geografica como temporalmente.

3. A importância desse dom para a Igreja.

O dom, também chamado de operação de milagres, prodígios e sinais, se constitui em manifestações especiais do poder de Deus que fogem às limitações humanas. São superiores e inexplicáveis. Ele demonstra o poder de Deus na realização de coisas miraculosas e extraordinárias. Ex: Jesus: “Dito isto, cuspiu no chão e com a saliva fez lodo, e untou com lodo os olhos do cego, e disse-lhe: Vai, lava-te no tanque de Siloé (que significa Enviado). E ele foi, lavou-se, e voltou vendo.”(Jo 9.6,7), Paulo: “Mas ele, sacudindo o réptil no fogo, não sofreu mal nenhum.”(At 28.5). Na operação dos poderosos sinais que envolvem os milagres, o supremo Senhor, apenas usa da forma que ele quer as leis e forças por ele mesmo criadas em socorro dos seus filhos. Isso é milagre (Leia Gl 3.5). A Igreja que ignora a atualidade dos dons, acaba por apagar o Espírito, como afirmou o teólogo holandês Abraham Kuiper: “Se os ministros não derem crédito à obra do Espírito Santo, darão pedra em vez de pão ao seu rebanho”. Precisamos enfatizar não apenas os dons de poder, mas todos os dons do Espírito, não apenas o dom de línguas ou o de profecia, mas como espirituais, desejar os mais excelentes dons; no dizer do Rev Hernandes Dias Lopes, “Hoje, quando se fala no Espírito Santo, quase só se pensa em dons, especialmente os dons de sinais. Não se pode restringir a ação do Espírto Santo aos dons. Não somos apenas carismáticos, somos pneumáticos. [...] Temos apagado o Espírito – quando tiramos o combustível que o alimenta: Palavra, oração.” [6].


III. Conclusão

Já vimos em lições anteriores que é falacioso, antibíblico e insensato o ensino de que aquele que possui um dom de operação exteriorizada (mais visível) é mais espiritual do que quem tem dons de operação mais interiorizada, menos visível. Também, quando uma pessoa possui um dom espiritual, isso não significa que Deus aprova tudo quanto ela faz ou ensina. Os dons de poder, como os demais dons, são soberanamente distribuídos pelo Espírito, continuam atuais e disponíveis à Igreja para a glória do nome do Senhor.

2º Trimestre de 2011 - Lição 06

Dons que Manifestam a Sabedoria de Deus

TEXTO ÁUREO

"Assim, também vós, como desejais dons espirituais, procurai sobejar neles, para a edificação da igreja" (1Co 14.12). –

VERDADE PRÁTICA

Através dos dons da palavra de sabedoria e da ciência, o Espírito Santo capacita-nos a conhecer fatos e circunstancias que somente Deus conhece.


LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Atos 16.16-24


I. INTRODUÇÃO

Dando seqüência ao estudo sistemático acerca dos dons espirituais, veremos hoje os dons espirituais que manifestam a sabedoria divina: a palavra da sabedoria, a palavra da ciência e o discernimento de espíritos, baseado no texto de 1 Coríntios 12.8-10. É evidente que o objetivo final é que estejamos cônscios da importância desses dons para a igreja hoje, não que os demais dons sejam de menor importância, até mesmo porque, é “por distribuições do Espírito Santo segundo a sua vontade" (Hb 2.4) que estes dons são concedidos (cf. 1Co 12.11), “ao surgir a necessidade, e também conforme o anelo do crente na busca dos dons (1Co 12.31; 14.1)” [2]. Boa aula!


II. DESENVOLVIMENTO

I. OS DONS DO ESPIRITO SANTO

1. Os dons espirituais.

Já vimos que uma das maneiras do Espírito Santo manifestar-se é através de uma variedade de dons espirituais concedidos aos crentes visando à edificação e à santificação da igreja. Encontramos outras listas de dons em Rm 12.6-8 e Ef 4.11, e é mediante o exercício destes dons que o crente serve na igreja de modo mais permanente. A lista exposta em 1Co 12.8-10 não é completa. Os dons aí tratados podem operar em conjunto, de diferentes maneiras. O Pr Ciro Sanches Zibordi assim discorre acerca da quantidade dos dons: “Os dons são muitos, e não apenas nove, como muitos pensam. Segundo a Bíblia, há diversidade de dons, ministérios e operações (1 Co 12.6-11,28). O fruto do Espírito também não pode ter as suas virtudes quantificadas. Quem afirma que são apenas nove os elementos formadores do fruto toma como base apenas Gálatas 5.22. Mas há várias outras passagens que tratam dessa doutrina paracletológica, como Efésios 5.9; Colossenses 3; 2 Pedro 1.5-9, etc” [3]. Satanás pode imitar a manifestação dos dons do Espírito, ou falsos crentes disfarçados como servos de Cristo podem fazer o mesmo (Mt 7.21-23; 24.11, 24; 2Co 11.13-15; 2Ts 2.8-10). A recomendação bíblica é que o crente não deve dar crédito a qualquer manifestação espiritual, sem antes “provar se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” (1Jo 4.1; 1Ts 5.20,21).


2. Classificação dos dons.

O propósito do Evangelho de Cristo é demonstrar o poder e a sabedoria de Deus aos homens, conforme Paulo escreve aos Coríntios: “Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus” (1Co 1.24). A operosidade dos dons promove a expansão da Igreja e a fortalece, a fim de vencer as dificuldades, perseguições e oposições. Os dons são necessários ao triunfo dos crentes sobre as adversidades do cotidiano (At 5.14; 6.7; 9.31; 16.5; 19.20). Em 1Co 12.8-10, o apóstolo Paulo apresenta uma diversidade de dons que o Espírito Santo concede aos crentes. Nesta passagem, ele não descreve as características desses dons, mas noutros trechos das Escrituras temos ensino sobre os mesmos. Esta lição trata de maneira sucinta, da operação desses dons, analisando-os genericamente a fim de fornecer-nos uma visão geral deles. O comentarista realiza uma subdivisão dos dons listados em 1Co 12 em:

a). Dons que manifestam a sabedoria de Deus:- palavra da sabedoria; palavra da ciência; discernir os espíritos;

b). Dons que manifestam o poder de Deus:- fé; dons de curar; operação de maravilhas; e

c). Dons que manifestam a mensagem de Deus: profecia; variedade de línguas; e interpretação de línguas.


3. A escassez dos dons.

Nos capítulos 12 a 14 de 1Coríntios, Paulo elabora sua tese acerca dos dons do Espírito Santo concedidos ao corpo de Cristo, os quais foram indispensáveis à igreja primitiva e que permanecem disponíveis e indispensáveis à igreja até que Jesus volte. Sem eles, a Igreja estará débil e seus membros deixam de fortalecer e de ajudar uns aos outros no padrão estabelecido por Deus. Os crentes que têm amor genuíno pelos que também pertencem ao corpo de Cristo devem buscar os dons espirituais a fim de poderem ajudar, consolar, encorajar e fortalecer os necessitados (1Co 12.17). A distribuição é soberana, mas isso não implica em que devamos esperar passivamente que Deus distribua os dons do Espírito Santo, antes, devemos ansiar e buscar os melhores dons (1Co 12.7-10). Devemos, com zelo, desejar e buscar com oração esses dons, principalmente os que são próprios para encorajar, consolar e edificar (1Co 14. 3,13,19,26). Tenhamos em conta que estamos vivendo dias em que, "por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos tem esfriado", como nos advertiu nosso Mestre (Mt 24.12). Como poderá a Igreja cumprir o “Ide” de Jesus sem essa capacitação do Espírito? Precisamos ser revestidos de poder do alto. Cristo anteriormente informara aos discípulos que, sem ele, nada podiam fazer. Quando os encarregou da conversão do mundo, acrescentou: "Permanecei, porém, na cidade (Jerusalém), até que do alto sejais revestidos de poder. Sereis batizados com o Espírito Santo não muito depois destes dias. Eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai" (At 1.4,5). Esse batismo do Espírito Santo, a promessa do Pai, esse revestimento do poder do alto, Cristo informou-nos expressamente ser a condição indispensável para a realização da obra de que ele nos incumbiu. O texto a seguir é de autoria de Charles G. Finney (1792-1875), onde ele discorre acerca das causas da escassez dos dons espirituais na Igreja já na sua época:
1) De modo geral, não estamos dispostos a ter aquilo que desejamos e pedimos;
2) Deus nos informa expressamente que, se contemplarmos a iniqüidade no coração, ele não nos ouvirá. Muitas vezes, porém, quem pede é complacente consigo mesmo; isso é iniqüidade, e Deus não o ouve;
3) é descaridoso;
4) é severo em seus julgamentos;
5) é autodependente;
6) repele a convicção de pecado;
7) recusa-se a fazer confissão a todas partes envolvidas;
8) recusa-se a fazer restituição às partes prejudicadas;
9) é cheio de preconceitos insinceros;
10) é ressentido;
11) tem espírito de vingança;
12) tem ambição mundana;
13) comprometeu-se em algum ponto e não quer dar o braço a torcer, ignora e rejeita maiores esclarecimentos;
14) defende indevidamente os interesses de sua denominação;
15) defende indevidamente os interesses da sua própria congregação;
16) resiste aos ensinos do Espírito Santo;
17) entristece o Espírito Santo com dissenção;
18) extingue o Espírito pela persistência em justificar o mal;
19) entristece-o pela falta de vigilância;
20) resiste-lhe dando largas ao mau gênio;
21) é incorreto nos negócios;
22) é impaciente para esperar no Senhor;
23) é egoísta de muitas formas;
24) é negligente na vida material, no estudo, na oração;
25) envolve-se demasiadamente com a vida material, e os estudos, faltando-lhe por isso tempo para oração;
26) não se consagra integralmente, e
27) o último e maior motivo, é a incredulidade: pede o revestimento, sem real esperança de recebê-lo. "Aquele que não dá crédito a Deus o faz mentiroso" (1Jo 5.10). Esse, então, é o maior pecado de todos. Que insulto, que blasfêmia, acusar a Deus de mentir!

II. A PALVRA DA SABEDORIA

1. A sabedoria satânica.

A serpente de Gn 3.1 é identificada em Ap 12.9 como o próprio Satanás. Strong assim define o termo Satan: “um oponente”, ou “o Oponente”; aquele que odeia; o acusador; adversário, inimigo; alguém que resiste, obstrui e atrapalha tudo o que é bom. Satan provém do verbo que significa ser um oponente, ou opor-se. Ha-Satan é aquele que odeia e, desse modo é o que há de mais oposto a Deus, que é amor. Nele não habita sabedoria alguma, mas apenas engano e astúcia. Paulo escreve aos Coríntios nestes termos: “Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos e se apartem da simplicidade que há em Cristo” (2Co 11.3). Strong define o termo astúcia como habilidade versátil, fraude astuta, esperteza sofisticada, conduta inescrupulosa, traição maldosa, esquema enganoso, sagacidade arrogante e arrogância matreira. Usada apenas cinco vezes no NT, refere-se a Satanás enganando Eva (2Co 11.3); à tentativa dos fariseus de enganar Jesus (Lc 20.23); ao engano de falsos mestres (Ef 4.14); à cilada dos sábios do mundo (1Co 3.19); e à maneira inadequada de apresentar o evangelho (2Co 4.2) [5]. Satanás pode capacitar seus agentes com uma espécie de sabedoria astuta a fim de cegar e enganar, se possível, os escolhidos. O crente da atualidade precisa estar informado de que pode haver, nas igrejas, obreiros corrompidos e distanciados da verdade, como os mestres da lei de Deus, nos dias de Jesus (Mt 24.11,24). “Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas e farão sinais e prodígios, para enganarem, se for possível, até os escolhidos” (Mc 13.22); Jesus adverte, aqui, que nem toda pessoa que professa a Cristo é um crente verdadeiro e que, hoje, nem todo escritor evangélico, missionário, pastor, evangelista, professor, diácono e outros obreiros são aquilo que dizem ser. Já vimos na lição anterior que, Satanás pode imitar a manifestação dos dons do Espírito, ou falsos crentes disfarçados como servos de Cristo podem fazer o mesmo (Mt 7.21-23; 24.11, 24; 2Co 11.13-15; 2Ts 2.8-10). O crente não deve dar crédito a qualquer manifestação espiritual sem antes “provar se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” (1Jo 4.1; cf. 1Ts 5.20,21). É por este motivo que urge a necessidade de buscarmos com maior diligência os dons espirituais. T. Austin Sparks escreve: “Quando contemplamos o estado de coisas no mundo hoje, ficamos profundamente impressionados e oprimidos com a prevalecente doença da cegueira espiritual. Ela é a causa da doença do nosso tempo. Não estaríamos muito errados se disséssemos que a maior parte dos problemas, se não todos, que o mundo está sofrendo tem sua origem naquela raiz: a cegueira. As multidões estão cegas; não há dúvida sobre isso. Num dia em que se imagina ser um dia de inigualável iluminação, as multidões estão cegas. Os líderes estão cegos; guias cegos guiando outros cegos. Mas numa grande escala, o mesmo é verdadeiro com respeito ao povo de Deus. Falando de modo geral, os cristãos hoje são muito cegos” [6].


2. A sabedoria de Deus.

A sabedoria é a capacidade espiritual de ver e avaliar a nossa vida e conduta do ponto de vista de Deus. Inclui fazer escolhas acertadas e praticar as coisas certas de conformidade com a vontade de Deus revelada na sua Palavra e na direção do Espírito Santo (Rm 8.4-17). Podemos receber sabedoria indo a Deus e pedindo-lhe com fé (Pv 2.6; 1 Co 1.30). Somente entesourando a Palavra de Deus em nossa mente é que aprenderemos a viver de modo sábio e justo em nosso relacionamento com Deus. Podemos vencer o pecado, tendo os mandamentos de Deus em nosso coração (Sl 119.11) e a Palavra de Cristo habitando dentro de nós (Jo 15.7; Tg 1.21). O estudo da Palavra de Deus deve ser acompanhado de perseverante oração, em que o crente contritamente clame por sabedoria e discernimento. É possível que só pelo estudo alguém se torne um erudito bíblico, mas a oração aliada ao estudo da Palavra de Deus leva o Espírito Santo a lançar mão da revelação divina e nos fazer pessoas espirituais. O crente deve orar a respeito do trecho bíblico que está lendo, desejando ardentemente a iluminação e a compreensão divinas. Somente à medida que a sabedoria de Deus entrar em nosso coração, isto é, em nossos motivos, desejos e pensamentos interiores é que produzirá vida e poder. Para isso, é necessário que o Espírito da verdade opere em nossa alma (Jo 16.13,14), fazendo com que os mandamentos e caminhos de Deus tornem-se um deleite para nós (Sl 119.47,48). As bênçãos decorrentes da sabedoria incluem:

a). Aprender a temer ao Senhor e daí ser protegido contra o mal ao longo da caminhada da vida (Pv 2.5-8);

b). Poder discernir entre o bem e o mal e assim evitar as tragédias do pecado (Pv 2.11);

c). Disposição para evitar pessoas más e conviver com pessoas boas e justas (Pv 2.12-15,20);

d). Abster-se da imoralidade sexual (Pv 2.16-19) e

e). Receber as bênçãos prometidas por Deus (Pv 2.21).

Deus se agrada quando os crentes buscam em oração sincera a sabedoria divina e um coração entendido. "E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto; e ser-lhe-á dada" (Tg 1.5; cf. Pv 2.2-6; 3.15; Lc 12.31; Ef 5.17; Tg 3.17).

3. O dom da palavra de sabedoria.

Este dom ocupa lugar importante entre os demais dons. Como os outros, é concessão do Espírito Santo, não se adquire de maneira natural, através da capacidade cognitiva, do acumulo de conhecimento humano. É uma declaração espiritual, num dado momento, pelo Espírito, sobrenaturalmente revelado a mente, o propósito e o caminho de Deus aplicado a uma situação específica. Tal mensagem aplica a revelação da Palavra de Deus ou a sabedoria do Espírito Santo a uma situação ou problema específico (At 6.10; 15.13-22). Não se trata aqui da sabedoria comum de Deus, para o viver diário, que se obtém pelo diligente estudo e meditação nas coisas de Deus e na sua Palavra, e pela oração (Tg 1.5,6). Capacita-nos a perceber, falar e agir em circunstancias tais, que os elementos naturais tornam-se inúteis. É algo especial que o pensamento humano, por si só, não descobre, pois é a revelação da mente de Deus aos que pregam, ensinam e administram a Igreja. Torna o crente apto a conhecer fatos passados, presentes e até futuros.


III. A PALAVRA DA CIÊNCIA E O DISCERNIMENTO DE ESPÍRITOS

1. O dom da palavra da ciência.

É evidente que o exercício ministerial requer um preparo catedrático, mas, neste texto em especial, ao falar deste dom, Paulo não se refere a este tipo de conhecimento humano galgado pelo estudo diligente. Paulo refere-se a um conhecimento sobrenatural, inspirado pelo Espírito Santo, revelando conhecimento a respeito de pessoas, de circunstâncias, ou de verdades bíblicas. Freqüentemente, este dom tem estreito relacionamento com o de profecia (At 5.1-10; 1Co 14.24,25). Este dom está ligado ao da Palavra da sabedoria, mas, apesar dessa vinculação, os dois relacionam-se com o discernimento e o entendimento espirituais necessários à edificação da Igreja. Sobre isto declara Paulo: “enriquecidos da plenitude da inteligência, para conhecimento do mistério de Deus – Cristo, em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência de Deus” (Cl 2.2,3). Emana de Deus tudo o que Ele deseja que saibamos ou conheçamos. Por sua onisciência, o Espírito revela coisas ocultas, sempre em benefício do seu povo. A relação entre a “sabedoria” e a “ciência” é muito íntima.

2. O discernimento de espíritos.

Discernir traduz o significado de “ver claramente”, ou “julgar através de”. Se o dom é do Espírito, sua manifestação é sobrenatural. Trata-se de um modo especial para se perceber o que há no íntimo de uma pessoa. É a capacidade de ver ou sentir, pelo Espírito Santo, o que motiva alguém a dizer ou fazer algo; discernir e julgar corretamente as profecias e distinguir se uma mensagem provém do Espírito Santo ou não (1Jo 4.1). Este dom é útil para que distingamos se algumas manifestações espirituais correspondem plenamente aos princípios divinos. Hoje, quando os falsos mestres e a distorção do cristianismo bíblico estão tomando proporções nunca antes pensadas, esse dom espiritual torna-se extremamente importante para a igreja. A Bíblia de Estudo Pentecostal, em nota textual de 1Tm 4.1, afirma o seguinte: ‘O Espírito Santo revelou explicitamente que haverá, nos últimos tempos, uma rebeldia organizada contra a fé pessoal em Jesus Cristo e da verdade bíblica (cf. 2 Ts 2.3; Jd 3,4). Aparecerão na igreja pastores de grande capacidade e poderosamente ungidos por Deus. Alguns realizarão grandes coisas por Deus, e pregarão a verdade do evangelho de modo eficaz, mas se afastarão da fé e paulatinamente se voltarão para espíritos enganadores e falsas doutrinas. Por causa da unção e do zelo por Deus que tinham antes, desviarão a muitas pessoas. Muitos crentes se desviarão da fé porque deixarão de amar a verdade (2 Ts 2.10) e de resistir às tendências pecaminosas dos últimos dias (cf. Mt 24.5,10-12; 2Tm 3.2,3). A popularidade dos ensinos antibíblicos vem, sobretudo pela ação de Satanás, conduzindo suas hostes numa oposição cerrada à obra de Deus. A segunda vinda de Cristo será precedida de uma maior atividade de satanismo, espiritismo, ocultismo, possessão e engano demoníacos, no mundo e na igreja (Ef 6.11,12)” [7].


3. A importância do dom de discernimento.

Os dons espirituais são dons da soberania de Deus. Em Efésios 4 o Cristo glorificado é apresentado como um general vitorioso, que lidera uma multidão de cativos libertos e distribui os despojos da batalha. Os presentes são de graça e a distribuição é soberana. Isto também é dito em 1Co 12.11: "Um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente". Por isso, recebemos a permissão, na verdade uma ordem, de "procurar os melhores dons", e isto "com zelo" (1Co 12.31). Mesmo assim, a partilha dos dons não depende da nossa vontade, mas da vontade do próprio Espírito Santo soberano. Portanto, os charismata provêm da vontade graciosa de Deus, e são concedidos por ele através do Espírito Santo. Certamente Cristo proverá sua Igreja com crentes capacitados com o dom de discernimento. Em Mt 24.5, Cristo declara que durante os últimos dias desta era, o engano religioso será volumoso na terra. Note-se que as primeiras palavras que Cristo dirigiu aos discípulos a respeito do tempo do fim foram “Acautelai-vos, que ninguém vos engane” (v. 4). É do maior interesse de Cristo que seus seguidores se acautelem do engano religioso que se alastrará em todo o mundo nos últimos dias. Para salientar esse perigo para os crentes dessa época, Cristo repete a advertência duas vezes, no sermão do Monte das Oliveiras. À medida que os dias vão passando, surgem muitos falsos mestres e pregadores entre o povo. Grande parte do cristianismo está se tornando apóstata. A lealdade total à Palavra de Deus, bem como santidade bíblica, são coisas raras. Crentes professos aceitam novas revelações, mesmo que elas conflitem com a Palavra revelada de Deus e isto está motivando a oposição à verdade bíblica dentro da igreja – nossas EBD são o exemplo mais patente (1Tm 4.1; 2Tm 3.8; 4.3). Homens que pregam um evangelho misto ocupam posições estratégicas de liderança nas denominações e nas escolas teológicas. Os tais enganam e desviam a muitos dentro da igreja (Gl 1.9; 2Tm 4.3; 2Pe 3.3,4). Em todas as partes do mundo, milhões de pessoas praticam ocultismo, astrologia, feitiçarias, espiritismo e satanismo. A influência dos demônios e espíritos malignos multiplica-se sobremaneira. Para não sermos enganados, devemos crescer em fé e amor para com Cristo, e termos como autoridade absoluta em nossa vida a Palavra, conhecendo-a bem na sua totalidade e desejando os melhores dons, sobretudo, o dom de discernir os espíritos, para discernirmos e julgarmos corretamente as profecias, distinguindo se uma mensagem ou doutrina provém do Espírito Santo ou não (1Jo 4.1).


III. CONCLUSÃO

A proteção do crente contra tais enganos e ilusões consiste na lealdade total a Deus e à sua Palavra inspirada, e a conscientização de que homens de grandes dons e unção espirituais podem enganar-se, e enganar os outros com sua mistura de verdade e falsidade. Essa conscientização deve estar aliada a um desejo sincero do crente praticar a vontade de Deus (Jo 7.17) e de andar na justiça e no temor de Deus (Sl 25.4,5,12-15). Os crentes fiéis devem perseverar na busca zelosa dos dons espirituais, ainda que, sejam eles distribuídos soberanamente pelo Espírito Santo. Deus prometeu que nos "últimos dias" salvará todos quantos invocarem o seu nome e que se separarem dessa geração perversa, e que Ele derramará sobre eles o seu Espírito Santo (At 2.16-21,33,38-40; 3.19).

2º Trimestre de 2011 - Lição 05

A importância dos Dons Espirituais


TEXTO ÁUREO

"Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes" (1Co 12.1).

VERDADE PRÁTICA

Os dons espirituais são concessões do Espírito Santo, objetivando expandir, edificar, consolar e exortar a Igreja de Cristo, para que ela cumpra, eficaz e plenamente, a missão que Deus lhe confiou.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

1º Coríntios 12.1-11


I. OS DONS ESPIRITUAIS

1. O significado da palavra “dom” e o crescimento da Igreja.

Na dimensão do batismo com o Espírito Santo, a experiência inicial é o falar em línguas, conhecido por “dom do Espírito”(At 2.38). Inicialmente, é importante destacar que “o dom” e “os dons” são distintos: após a conversão, pode-se receber o dom do Espírito, porém, os dons do Espírito apenas ocorrem na vida coletiva da Igreja, para sua edificação e para a glória de Deus. Em At 2.38, o termo grego charisma é singular, diferente da ocorrência em 1Co 12.31 onde o termo é charismata, plural de charisma. Em Ef 4.11-13, os termos gregos dorea e doma são também usados para designar “dons”, referindo-se àqueles dons como capacitadores ou equipadores para o culto pessoal no reino de Deus. Também o termo pneumatika empregado em 1Co 12.1, é usado para descrever os dons como “coisas pertencentes ao Espírito”. O ponto é que cada ocorrência dessas palavras dá o sentido contemporâneo à obra sobrenatural do Espírito em nossas vidas. Da nossa palavra chave entendemos que o termo latino que traduz o grego charisma é donum, presente, dádiva, e de maneira nenhuma se trata de algo que recebemos para guardar; os dons do Espírito não são presentes que recebemos para proveito nosso e nem tampouco o Despenseiro leva em consideração os nossos méritos para concedê-los. São concedidos graciosamente, segundo o conhecimento e soberania divinas. A Bíblia de Estudo Pentecostal afirma no Estudo Doutrinário Dons Espirituais para o Crente: “As manifestações do Espírito dão-se de acordo com a vontade do Espírito (1Co 12.11), ao surgir a necessidade, e também conforme o anelo do crente na busca dos dons (1Co 12.31; 14.1)” [1]. Assim Deus também testificou da mensagem das testemunhas oculares apostólicas "por sinais, prodígios e vários milagres, e por distribuições(*) do Espírito Santo segundo a sua vontade" (Hb 2.4) [(*)A palavra aqui em grego não é charismata, mas merismoi, "distribuições" (melhor que a tradução "dons" da ARC), e pode referir-se à distribuição de poderes, como sugere o contexto, em vez de dons]. O que visa essa distribuição de poder? Para o Pr Hernandes Dias Lopes, “poder para sair do campo da especulação escatológica e ir para o campo da especulação missionária” [2].

2. A concessão dos dons espirituais.

"Dons" ou "dons da graça" (gr. charismata, derivado de charis, "graça"), indicam que os dons espirituais envolvem tanto a motivação interior da pessoa, como o poder para desempenhar o ministério referente ao dom recebido do Espírito Santo. Esses dons fortalecem espiritualmente o corpo de Cristo e aqueles que necessitam de ajuda espiritual. Significam uma concessão especial e sobrenatural de Deus para a realização de sua obra, através da Igreja. É falaciosa a idéia de que o possuidor do dom espiritual seja mais santo ou espiritual que os outros. A manifestação dos dons não são instrumento de aferição do grau de espiritualidade. O Espírito Santo não depende do mérito da santidade de ninguém. Se este fosse o caso, os crentes de Corinto nunca os teriam recebido. Não se deve confundir dons do Espírito, com o fruto do Espírito, o qual se relaciona mais diretamente com o caráter e a santificação do crente (Gl 5.22,23). Os dons jamais são concedidos para vaidade particular, eles pertencem ao Espírito Santo, somos para Ele apenas vasos para a manifestação de sua obra.

3. A manifestação do dom.

Nos capítulos 12 a 14 de 1Coríntios, Paulo trata dos dons do Espírito Santo concedidos ao corpo de Cristo. Dons que foram indispensáveis à igreja primitiva e que permanecem em ação na igreja até a volta de Jesus Cristo, sem eles, os crentes deixam de fortalecer e de ajudar uns aos outros como Deus deseja. Seus propósitos para os dons espirituais são os seguintes:
(1) Manifestar a graça, o poder, e o amor do Espírito Santo entre seu povo nas reuniões públicas, nos lares, nas famílias e nas atividades pessoais (vv. 4-7; 14.25; Rm 15.18,19; Ef 4.8);
(2) Ajudar a tornar eficaz a pregação do evangelho aos perdidos, confirmando de modo sobrenatural a mensagem do evangelho (Mc 16.15-20; At 14.8-18; 16.16-18; 19.11-20; 28.1-10);
(3) Suprir as necessidades humanas, fortalecer e edificar espiritualmente, tanto a congregação, como os crentes individualmente, isto é, aperfeiçoar os crentes no "amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida" (1Tm 1.5; 1Co 13), e (4) Batalhar com eficácia na guerra espiritual contra Satanás e as hostes do mal (Is 61.1; At 8.5-7; 26.18; Ef 6.11,12). Alguns trechos bíblicos que tratam dos dons espirituais são: Rm 12.3-8; 1 Co 1.7; 12-14; Ef 4.4-16; 1 Pe 4.10,11) [3].

SINÓPSE DO TÓPICO (1)

Os dons espirituais são concedidos não por merecimento do crente, mas pela soberania de Deus. Eles são entregues à Igreja para o fortalecimento e santificação do Corpo de Cristo.

II. OS DONS DO ESPÍRITO SANTO E A ESPIRITUALIDADE

1. A espiritualidade e os dons.

A santidade ou espiritualidade de um crente não se mede pela manifestação de um dom. Já vimos que não é por mérito que o Espírito Santo é concedido e tampouco Ele depende de nossa espiritualidade para operar. É verdadeiro que a nova vida em Cristo é cheia do Espírito Santo, por isto o crente torna-se alvo das operações do Espírito. Nós não possuímos meios para vencermos o pecado que nos rodeia. Precisamos, então, de poder para superá-lo, o que só é possível se andarmos no Espírito (Rm 8.4). É o Espírito Santo operando dentro do crente que o capacita a viver uma vida de retidão. O Espírito Santo nos fortalece em nosso estado de fraqueza.

2. Os dons espirituais e o fruto do Espírito.

A linguagem bíblica apresenta uma das figuras mais belas sobre o caráter cristão, representada pela metáfora do “fruto do Espírito”. Paulo enfatiza nove qualidades distintas do mesmo fruto, o fruto é indivisível e forma uma unidade espiritual. Em contraste com as obras da carne, temos o modo de viver íntegro e honesto que a Bíblia chama “o fruto do Espírito”. Esta maneira de viver se realiza no crente à medida que ele permite que o Espírito dirija e influencie sua vida de tal maneira que o crente subjugue o poder do pecado, especialmente as obras da carne, e ande em comunhão com Deus (Rm 8.5-14; 2Co 6.6; Ef 4.2,3; 5.9; Cl 3.12-15; 2Pe 1.4-9). Como é indivisível, é impossível ter-se uma parte dele e não possuir a outra. Difere dos dons espirituais quanto ao recebimento, o fruto surge de dentro para fora, naturalmente, através do crescimento espiritual, enquanto que, os dons manifestam-se de fora para dentro. O primeiro ajuda a desenvolver o segundo. "Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio." (Gl 5.22, 23a), John Stott afirma: “Uma simples leitura destas graças cristãs deve ser suficiente para encher de água a boca e fazer o coração bater mais forte, porque este é um retrato de Jesus Cristo. Nenhum homem ou mulher até hoje apresentou estas qualidades com tal equilíbrio ou perfeição como o homem Jesus Cristo. Assim, este é o tipo de pessoa que todo cristão gostaria de ser” [4]. E ele prossegue afirmando: “Este, então, é o retrato de Cristo, e, da mesma forma – pelo menos em termos ideais – do cristão equilibrado, parecido com Cristo, cheio do Espírito. Não temos liberdade para escolher algumas destas qualidades, porque é conjunto (como um cacho de uvas ou um feixe de trigo) que elas nos fazem semelhantes a Cristo. Cultivar algumas, e não outras, coloca-nos em desequilíbrio. O Espírito dá diferentes dons a diferentes cristãos, [...]mas ele atua no sentido de produzir o mesmo fruto em todos. Ele não se satisfaz se demonstramos amor aos outros, mas não controlamos a nós mesmos; ou se temos alegria e paz em nós, mas não somos gentis para com os outros; ou se temos paciência negativa, sem bondade positiva; ou se apresentamos humildade e flexibilidade, sem a firmeza da confiabilidade cristã. O cristão desequilibrado é carnal; todavia, existe uma perfeição, uma compleição, uma plenitude de caráter cristão que somente cristãos cheios do Espírito têm” [5].

3. Imaturidade espirituais e os dons.

Em Efésios 4.13-15, Paulo define as pessoas espiritualmente "perfeitas" ou maduras, que possuem a plenitude de Cristo afirmado que ser espiritualmente maduro é não ser "meninos", os quais são instáveis, facilmente enganados pelas falsas doutrinas dos homens e suscetíveis ao artificialismo enganoso. O crente permanece infantil quando tem uma compreensão inadequada das verdades bíblicas e pouca dedicação a elas. Ser espiritualmente maduro inclui falar "a verdade em amor". A verdade do evangelho, conforme apresentada no NT, deve ser crida com amor, apresentada com amor e defendida em espírito de amor. Esse amor é dirigido primeiramente a "Cristo"; em seguida, à igreja e, finalmente, de uns para com os outros (Ef 4.32; 1Co 16.14). No dizer de Paulo, o homem carnal, regenerado, mas vivendo como não regenerado, é um crente com hábitos imaturos, vive mais pela opinião humana do que por Cristo, como a Igreja de Corinto, os quais haviam recebido o Espírito Santo, eram espirituais no sentido mais fundamental da palavra, mas seu comportamento era tão incoerente com essa verdade que Paulo precisou tratá-los como pessoas que tinham pequeno entendimento espiritual. É imprescíndivel o acurado exame das Escrituras de forma sistemática. A palavra grega traduzida por examinar significa urna investigação minuciosa, diligente e curiosa. Não podemos nos contentar com a leitura superficial de um ou dois capítulos da Bíblia. Com a iluminação do Espírito, temos de descobrir deliberadamente os significados profundos da Palavra de Deus. As Escrituras Sagradas exigem esse tipo de investigação, pois, em sua maior parte, as Escrituras podem ser aprendidas somente mediante estudo cuidadoso. Na Bíblia, existe leite para os bebês e carne para os adultos. O grande teólogo Tertuliano exclamou: "Eu adoro a plenitude das Escrituras". Nenhuma pessoa que apenas lê superficialmente o Livro de Deus pode se beneficiar dele. Temos de cavar, até que encontremos os tesouros escondidos. A porta da Palavra se abre tão-somente por meio da chave da diligência.

SINÓPSE DO TÓPICO (2)

A espiritualidade do servo de Deus não pode ser avaliada apenas pela manifestação dos dons espirituais em sua vida, e sim pelas obras que o crente realiza como resultado do Fruto do Espírito em sua vida.

III. OS PROPÓSITOS DOS DONS ESPIRITUAIS

1. Edificar a Igreja.

Os dons de Deus são dados para serem usados. Os órgãos do corpo humano são funcionais. De modo semelhante, os membros do Corpo de Cristo foram feitos para exercer seus dons. Nós somos "despenseiros da multiforme graça de Deus", e recebemos a ordem para sermos "bons despenseiros" (1Pe 4.10). Paulo escreveu: "Usemos os nossos diferentes dons" (Rm 12.6). Porém, como devemos usá-los? A Bíblia afirma que eles são "dons de serviço", cujo propósito primordial é "edificar" a Igreja. Os apóstolos Paulo e Pedro sublinham o uso altruísta dos dons a serviço de outras pessoas; na verdade, de toda a Igreja: "Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos" (1Co 12.7);"Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus" (1Pe 4.10). Sabemos que nenhum dom deve ser desprezado. Ao mesmo tempo, porém, devemos desejar ansiosamente "os melhores dons" (1Co 12.31). Como, então, podemos avaliar sua importância relativa? A única resposta possível a esta pergunta é: "De acordo com o grau em que edificam". Já que todos os charismata são dados para a edificação de cristãos individuais e da igreja como um todo, quanto mais eles edificam, mais valiosos eles são. Paulo é claro como cristal a respeito disto. "Visto que desejais dons espirituais", ele escreve, "procurai abundar neles, para edificação da igreja " (1Co 14.12). Ainda John Stott, escrevendo acerca dos dons, afirma: “Por este critério, os dons de ensino têm o valor mais elevado, porque nada edifica melhor os cristãos do que a verdade de Deus. Por isso, não é surpreendente encontrar um ou mais dons de ensino encabeçando as listas do Novo Testamento. A insistência dos apóstolos na prioridade do ensino tem relevância considerável na Igreja do nosso tempo. Em todo o mundo, as igrejas estão espiritualmente subnutridas, por causa da carência de expositores da Bíblia. Em áreas onde há movimentos de massa todos estão suplicando mestres que instruam os convertidos. Por causa da escassez de instrutores, é triste ver tantas pessoas preocupadas e até distraídas por dons de importância secundária” [6].

2. Promover a pregação do Evangelho.

Charles Finney relata sua experência de uma maneira tão esplêndida, que lança luz sobre o objetivo missionário da autorga dos dons pelo Espírito; disse ele: “Para honra exclusiva de Deus, contarei um pouco da minha própria experiência no assunto. Fui poderosamente convertido na manhã do dia 10 de outubro. À noitinha do mesmo dia, e na manhã do dia seguinte, recebi batismos irresistíveis do Espírito Santo, que me traspassaram, segundo me pareceu, corpo e alma. Imediatamente me achei revestido de tal poder do alto, que umas poucas palavras ditas aqui e ali a indivíduos provocavam a sua conversão imediata. Parecia que minhas palavras se fixavam como flechas farpadas na alma dos homens. Cortavam como espada; partiam como martelo os corações. Multidões podem confirmar isso. Muitas vezes uma palavra proferida, sem que disso eu me lembrasse, trazia convicção, resultando, em muitos casos, na conversão quase imediata. Algumas vezes me achava vazio desse poder: saía a fazer visitas e verificava que não causava nenhuma impressão salvadora. Exortava e orava, com o mesmo resultado. Separava então um dia para jejum e oração, temendo que o poder me houvesse deixado e indagando ansiosamente pela razão desse estado de vazio. Após ter-me humilhado e clamado por auxílio, o poder voltava sobre mim em todo o seu vigor. Tem sido essa a experiência da minha vida” [7].

3. O aperfeiçoamento dos santos.

“Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo”(Ef 4.12). A palavra “aperfeiçoamento”, do grego katartismós, significa algo funcional, algo que se deve colocar em ordem. Por isso, a melhor tradução seria: “com vistas ao reto ordenamento dos santos”. Paulo ensina que para crescer na graça, em maturidade espiritual e em Cristo sob todos os aspectos, o crente deve aceitar somente a fé e a mensagem dos apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres do NT, ser cheio da plenitude de Cristo e de Deus, não permanecer como criança, aceitando "todo o vento de doutrina", mas, pelo contrário, conhecer a verdade, e assim saber rejeitar falsos mestres; sustentar e falar com amor a verdade revelada nas Escrituras e andar em "verdadeira justiça e santidade" (Ef 4. 11, 12, 15, 17-32).

SINÓPSE DO TÓPICO (3)

Os dons espirituais foram concedidos à Igreja para promover a pregação do evangelho, a edificação da Igreja e para o desenvolvimento e aperfeiçoamento dos crentes.

III. CONCLUSÃO

Os dons existem em função do benefício de toda igreja. Por essa razão é que a palavra do apóstolo é inclusiva: “até que todos cheguemos a unidade da fé” (Ef 4.13). Quando o Espírito Santo regenera alguém, renova seu coração, para capacitá-lo à produção do “fruto do Espírito”. Ele, que habita o crente, recria, remodela e renova. Reproduz no caráter do crente as suas próprias qualidades (Rm 5.5). O que deve ficar patente, hoje, é a finalidade dessa distribuição de poder pelo Espírito Santo, a fim de desmistificar o batismo com o Espírito Santo, o recebimento dos dons e sua aplicabilidade.

APLICAÇÃO PESSOAL

O trabalho de Deus é um trabalho espiritual, que só pode ser feito por meios espirituais, más, é antibíblico e insensato se pensar que quem tem um dom de operação exteriorizada (mais visível) é mais espiritual do que quem tem dons de operação mais interiorizada, i.e., menos visível. Isso não exime o crente de procurar o modo de viver íntegro e honesto que a Bíblia chama “o fruto do Espírito”. Esta maneira de viver se realiza no crente à medida que ele permite que o Espírito dirija e influencie sua vida de tal maneira que o crente subjugue o poder do pecado, especialmente as obras da carne, e ande em comunhão com Deus. Também, quando uma pessoa possui um dom espiritual, isso não significa que Deus aprova tudo quanto ela faz ou ensina. Não se deve confundir dons do Espírito, com o fruto do Espírito, o qual se relaciona mais diretamente com o caráter e a santificação do crente (Gl 5.22,23). É importante ter o Espírito Santo dentro de nós, mas é muito mais excelente ter o revestimento do Espírito Santo!

N’Ele, que me garante: "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Ef 2.8),